O Que Movimenta o Nosso Mundo Não é o Conhecimento, Mas o que Pensamos Conhecer.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015



NOSSO FACISMO NÃO TEM FACE (AINDA)


É covarde e dissimulado, oportunista e destrutivo. E assim como o resto acha que a solução seja atingir pessoas, individualmente, como se elas pudessem agir à margem do sistema, independentemente, ou como se elas não fossem suceptíveis de serem enganadas, ou ainda como se os contextos não se modificassem. Parece o nosso facismo ser pretensamente praticado por pessoas que não sabem o que estão fazendo, mas têm a intensão muito clara de prejudicar e de violar direitos de outros. Não dá pra imaginar que tenham alguma boa intensão, e nem que ajam por simples opção, isentamente de interesse pessoal e egoista. Mas cuidado, amigos. O facismo não é bem isso, na verdade é muito mais, foi criado na Itália como modelo de governo e considera-se a data de Mussolini: 1922. Adorado pelos italianos durante anos (a guerra começou em 39), foi estigmatizado depois, pejorativamente, como tudo que atrapalhava o domínio do capitalismo rotulado de democrático, e hoje o termo é sinônimo de fanatismo violento e de irracibilidade. Mas o pior é que o nosso facismo não tem face, tem muitas, escondidas atrás de outros rótulos, e da impessoabilidade da internet.

Aliás, esse caráter de víbora não é uma exclusividade de facistas. Podemos vê-lo em muitas atividades, sempre que alguém se esconde ou se mistura com as próprias vítimas. Assim, a política se mistura com falsas ideias entre os coletivos nem tão pensantes, o crime organizado usa a população trabalhadora como escudo ou alvo, os terroristas se escondem atrás de dogmas e interpretações religiosas, que não têm aceitação nem mesmo da maioria dos seus semelhantes, e de alguma forma todos acabam usando meios violentos e covardes, porque de outra forma não atingiriam seus objetivos. O nosso facismo vai por esse caminho. Não temos por aqui um governo que se possa tachar de facista por seu modelo de governo, mas temos muitos facistas na política, em vários partidos, como sempre oportunistas insidiosos, mas não são (AINDA) um regime de governo. E então muitas pessoas que querem apenas se manifestar e não governar, chafurdam nos seus alegados direitos democráticos.

Meus amigos, as ideologias nada podem produzir, são apenas organização de ideias. As pessoas que as usam é que fazem delas rótulos enganosos, para justificar seus enganos. As ideologias só tem sentido para o conjunto, mas são usadas para interesses particulares. O que as distingue e caracteriza é a sua integridade, contudo, o que se tem feito é cortar fatias de uma delas, ou de algumas, e proclamar que são ideologias, conforme a conveniência das pessoas que escolhem as fatias. E por paradoxal que fosse, eu talvez apoiasse! Desde que pudesse enxergar nessa salada uma priorização do bem comum, em vez de inúteis sectarismos. O facismo também é uma ideologia e um modelo de governo, assim como o comunismo, ambos hoje pichados de valores pejorativos, para o bem dos planos imperiais dos grandes capitais americano e judeu, desde o fim da segunda grande guerra. Mas esse processo de extermínio ideológico dissimulado, com fantasias resistentes a bala e outros superpoderes, produz também a própria criptonita, assim como o pretenso desenvolvimento tecnológico social produz lixo contaminoso. Se a prioridade dos governantes e dos que lucram fosse o bem comum, se os poderes de governo fossem harmônicos, congruentes com as soluções que deviam sentir-se obrigados a promover, essas mentiras institucionalizadas e oferecidas como solução não criariam raízes, não dariam frutos amargos, e não veríamos um dos chefes do Congresso Nacional dizer que "rompeu" com a chefe do Estado, como se essa figura jurídica existisse, num churrasco, no seu quintal familiar. Ora, rompesse, não seria por falta de motivos. Mas antes renunciasse, e então, como cidadão comum, teria esse direito.

Afinal, nada acontece apenas porque essa ou aquela pessoa queira fazer. Todos, sem exceção, estão submetidos, no mínimo, ao conjunto de fatores que lhes escapam do controle, por mais que tentem evitar. E é isso que justifica os caráteres violento, enganador e destrutivo: as necessidades de sustentar ambições particulares, de submeter obstáculos, de subverter a multiplicidade, e tudo se justifica pelo falso direito de obstinação inconsequente do ego. A exclusão da livre competitividade foi um erro das ideologias socialistas, e a sua exacerbação um erro do liberalismo, todavia o erro que não se corrigiu foi outro, o falso conceito de que o Estado tem direitos acima dos da sociedade. Falso direito pai do filho igualmente degenerado, o direito da competitividade dentro do Estado, como se não houvesse o compromisso com o bem ou o interesse comum da sociedade, múltipla como ela tem de ser. composta de trabalhadores e patrões, de consumidores e capitalistas, de eleitores e políticos.

O que tenho proposto aos meus amigos é a seguinte reflexão: o pano de fundo de tudo isso que está acontecendo é um sistema de falsos conceitos, e não de políticos, de capitalistas, de verborrágicos e interativos internautas. Este sistema contamina a lei e as ações de todos os poderes, oferecendo respaldo sistêmico. Ninguém cometeria tantos absurdos se não houvessem as convicções de que permaneceria impune, de que outros se calarão, de que o sistema é institucionalizado, de que a massa é ingênua, desmemoriada e moldável, e pior, que é bem representada pelo caráter do político médio, que afinal ela elege. Esse sistema que, por exemplo, permite que alguém, bastando ser brasileiro e alfabetizado, se candidate ao legislativo oferecendo como compromissos seus ações do executivo, tem de ser corrigido antes de qualquer outro resultado. Temos um Estado mórbido e alucinado, assim como as instituições associadas. Precisamos sarar esse câncer político e social, porque só a instituição sadia poderá promover as mudanças de que necessitamos, por suas próprias funcionalidades sadias, seu fisiologismo sadio.

Quando os conceitos falsos forem trocados por conceitos corretos e justos, as pessoas e as instituições se realinharão, no mínimo por suas próprias necessidades. Precisamos resguardar não as liberdades mas o uso delas, criar mecanismos para isso. As pessoas precisam aprender a ter e usar direitos, a conviver com a diversidade, inclusive com o facismo. Não podemos esperar soluções que julguemos direitos produzindo sectarismo e exclusão, ou seja, direitos de outros, as soluções têm de ser para todos. Eleger individualidades, quer para elogiar quer para sacrificar no nosso lugar, não produzirá nenhuma solução permanente. Usar as faces de um Tiririca ou de um Chico Buarque, as suas qualificações, convicções e outras privacidades, para formar e manipular opinião criminosamente, ou qualquer outro mecanismo criminoso, não produzirá solução institucional e dignidade. Não precisamos disso, mas sim de um sistema de conceitos que não dê margem e estimule coisas assim, por impunidade. O exemplo do uso correto das liberdades, que custaram tão caro a tantos jovens e patriotas brasileiros, tem de partir de cima, pela institucionalização de conceitos justos e honestos, e pela absoluta priorização da demanda de necessidade pública, em lugar dos direitos particulares dos que deveriam se dedicar aos direitos da sociedade.

Quem ganha para apagar incêndios é o corpo de bombeiros. O legislativo ganha para tratar do condicionamento jurídico das relações entre as pessoas e instituições, e delas entre elas, não para governar, e se há leis que degeneram os poderes foram feitas por legisladores degenerados, ou desqualificados para sua função. Quem ganha para governar é o executivo técnico, segundo critérios técnicos (e não políticos). E quem ganha para assegurar o condicionamento estabelecido é o judiciário. Seria simples, se o sistema de conceitos praticados não permitisse a competitividade entre poderes, que inviabiliza a unidade de um Estado, que não é facista mas não tem face reconhecível, porque criaram um regime de governo híbrido, fantasiado de presidencialismo democrático, para enganar a preferência popular conhecida e comprovada nas urnas. Condenemos a todos os criminosos, é o justo. Mas a todos, e aos criminosos, e sem regalias e privilégios que suavizem a penalidade. Mas tenhamos muito cuidado com o uso do populismo irresponsável, mais do que com os programas demagógicos. Depois de vários anos amado e com índices altíssimos de popularidade, o Duce, apelido carinhoso e popular de Mussoline, acabou fuzilado junto com sua amante (que podia ter fugido) por rebeldes, e seus corpos foram expostos desrespeitosamente no teto de um posto durante dias, para execração pública.

Amigos, sectarismos e violência nunca foram solução permanente. Temos nesta terra tudo que precisamos, naturalmente. E as únicas soluções de que necessitamos são para todos, de todos e por todos.

domingo, 20 de dezembro de 2015


Foto: www1.folha.uol.com.br


O PT NÃO ERRA SOZINHO


Tenho exposto minhas convicções para que meus amigos reflitam. "Talvez elas estejam certas em algumas coisas, e isso sirva como contribuição", digo a mim mesmo sem outras pretensões. Mas há quem as compartilhe involuntariamente, do alto das suas especializações. Quando disse que "Temer cometeu tripla traição", referindo-se ao fato de abandonar o barco da candidatura como vice da presidente, o renomado cientista político André Singer errou, apesar de tão elogiável colunista. Não deve ser tão bom em matemática, porque foram sete as traições e não três, até parece coisa de final dos tempos. Além de trair a presidente (não é o mesmo que trair o PT), trair a si mesmo, e trair a vocação do PMDB, Temer traiu mais:

a Constituição que estabelece como deve funcionar o regime presidencialista, reafirmado como preferência por plebiscito, e já o fazia antes, tinha até um plano de governo na manga;

Temer traiu a metade dos políticos do seu próprio partido que defendia o conceito constitucional, e se opunha ao impeachment sem crimes graves da presidente (não existe impeachment para partido político de situação);

Temer traiu a sociedade e a suas esperanças no que venha depois do impeachment, porque votamos em muitos nomes e partidos, mas sob o pressuposto de que haja harmonia, honestidade e lealdade em favor do bem comum, valores que estão em extinção na política e nenhuma perspectiva melhor que o Estado ofereça;

e provavelmente tenha traído, por paradoxal que pareça, até o seu amigo Cunha. Porque agora todos os políticos, de todos os partidos, que ainda tiverem um resto de vergonha na cara, não vão sustentar a absolvição do presidente da Câmara. Como fazer isso em favor de um vice covarde e traidor? Ele é o vice por força da lei e das instituições e não por concepção dele, deve celebrar os sucessos e reconhecer os fracassos do Estado, e não do PT. As instituições de direito público pertencem ao Brasil e à nação, que paga por tudo com impostos, trabalho honesto e esperança pacífica. O inverso é uma mentira política criminosa.

Esse impeachment é um embuste político que vem sendo tramado desde a primeira vitória do Lula, por inconformados parlamentaristas, inclusive alguns ex-constituintes, que se colocam acima da vontade da sociedade para atingir os objetivos pessoais da sua ambição. E se aproveitaram deslealmente (as regras eram claras) do fato do escrutínio ter sido definido por uma margem pequena, em comparação com os antecedentes. Mas isso era a regra escrita por eles, e não pelo petismo que eles querem exterminar. Como não podem, atingem a presidente eleita, e ainda induzem milhões de pessoas a manter um tratamento desrespeitoso e antidemocrático à pessoa, ao ser humano Dilma. Nossa democracia é uma farsa, nossa política é criminosa, e a única maneira da presidente ter ficado imune por todo esse tempo, seria assumir ela própria um golpe, e estabelecer um regime autoritário. Porque não tínhamos liberdades e muitos cidadãos civis idealistas foram torturados e mortos em nome delas. E a "tal" da Dilma de sobrenome "comunista" escapou da morte. Pois bem, os políticos de hoje traem a memória e as famílias daqueles jovens patriotas brasileiros. Desgraçadamente. Vergonhosamente. Mas os seus futuros e os dos seus entes queridos parecem generosamente assegurados, às custas de milhões de traídos.

Não foi o comunismo nem o socialismo que fracassaram, embora, como solução humana para os regimes de governo, nenhuma ideologia isolada sirva. Mas fracassaram todas rotulagens socialistas, porque o verdadeiro conteúdo não correspondeu aos rótulos. A prioridade não foi o ser humano cidadão, contribuinte e eleitor, salvo em programas demagógicos. Mas curiosamente vale olhar para a foto deste artigo. Oscar Niemeyer, notável e adorado arquiteto de brasília, reconhecido comunista, também de certa forma fracassou. Não pela sua escolha ideológica, um direito democrático. Mas porque não conseguiu sensibilizar nossos políticos tacanhos para o fato de que o côncavo e o convexo, bem como a coluna dupla, ambos elementos arquitetônicos e simbólicos do prédio do Congresso Nacional, devem ser na verdade uma coisa só: um símbolo da esperança desse povo simples e trabalhador, já tão cansado de ser enganado, e de não ter perspectivas claras oferecidas pelo Estado, que sustentem a sua opção pela honestidade e contra a bandidagem organizada formal.

CLIQUE PARA VER A OPINIÃO DE ANDRÉ SINGER:

"Temer Cometeu Tripla Traição".

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015


Foto:stf.jus.br


BAGULHO NO COLO DO SUPREMO


O nosso político típico parece um pivete metido a malandrinho, sem um pingo de vergonha na cara, por trás dos óculos. Do tipo que subitamente aparece na tua frente, ou na tela do televisor, vindo nunca se sabe de onde, talvez da deslealdade do Estado, com uma arma na mão, que também pode ser uma mentira. Então ele ameaça, humilha, e se você não der o que ele quer, ele simplesmenten toma na marra, e termina dizendo que se for preso vai faltar cadeia. Todavia se, no prosseguimento, ele for pego, passará ao personagem de vítima, de coitadinho. Então aparecerá alguém para defender direitos humanos, como se a verdadeira vítima fosse algum ET, ou uma sociedade de ET, e logo na esquina o pivete solto já estará rindo, talvez debochando. Isso se não gesticular mais ameaças!

No entanto hoje estou me sentindo bem, muito bem comparado a como vinha me sentindo. Tudo porque encontrei um caso raro no noticiário, que nos dá conta de que nem todos no tribunal supremo deste país, se dispõem a servir à política. O judiciário deve ser um poder absolutamente técnico, e agir por critérios técnicos. Assim como o executivo. Essa estratégia de politizar o Estado todo para aumentar o seu poder há muito vem sendo adotada pela política legislativa, mas de uns anos para cá o truque vem sendo repetido, porque deu certo antes. Assim, o plano de poder do legislativo exige muitas pastas ministeriais, chefiadas até por técnicos mas que representam partidos, e seus séquitos, e de outras formas os políticos influenciam ministros do Supremo, mas com o mesmo objetivo. Reclamam tantos que os ministros do Supremo são indicados pelo executivo. Ora, quem estabeleceu essa regra? O truque é o seguinte...

Neste país o legislador não quer legislar, seria preciso estudar muito e trabalhar um pouco. A demanda legislativa fica na gaveta, esperando que alguma coisa se encaixe em conveniências políticas de governo. O que o legislativo quer realmente é governar, já foi assim quando houve oportunidade para os constituintes, basta ler na Constituição a partilha do que redunda em ação de governo. Por essa razão tanto se invoca a Carta Régia hoje em dia, porque ela foi feita para isso, para aumentar o poder de governo do legislativo. De outra forma, por que razão não é invocada em tantas outras ocasiões perfeitamente cabíveis, quer no interesse do cidadão quer no interesse do próprio político? Qual a verdadeira razão do legislador precisar do Supremo para fazer um regramento regulamentador que cabia ao legislador regulamentar?

A Constituição é atualmente o pretendido lastro para o conflito entre poderes. Conflito de conceito? Não? Para que conceitos e competências previamente definidas? A política parece achar que são desnecessários, até o ponto em que passem a lhes interessar. Agora não é mais necessário que o Congresso legisle e o Supremo julgue. Como já não é necessário saber, por exemplo, qual a relação entre as origens e os fins de tantos tributos. Isso não é um governo técnico, é político, orientado por interesses políticos, segundo objetivos e critérios políticos.

Estabeleceu-se neste país um modelo de governo por leis, como se devesse haver uma lei específica para cada situação possível e imaginável. Isso é parte da estratégia porque fazer leis cabe ao legislativo, quando tem tempo, e não apenas à Constituinte, ao menos enquanto não degenerarem também o conceito de Constituinte. Governa-se por lei para que não haja necessidade de justificar, e convencer adversários políticos. A lei aplica-se, não se discute. e quem não obedece sujeita-se aos seus rigores. Sequer se discute a existência de adversários dentro do poder público! Alguém invocou a Constituição para corrigir a desarmonia entre os poderes? Isso é um truque de pivete, sem base de conceito. E caba perfeitamente no paralelismo de poder marginal a que se submete a sociedade honesta e trabalhadora: "Faça o que eu digo, e não o que eu faço".

O truque tem se completado com as artimanhas de se levar para o Supremo Tribunal questões que não lhe cabem por conceito, ou que deviam ser julgadas em instâncias que têm essa responsabilidade específica. As casas legislativas são dotadas de instituições com autoridade para julgar as questões domésticas. Contudo aliciar um segundo poder isola estrategicamente o terceiro poder. Joga-se então o embrulho, aliás, no caso o bagulho, no colo do Supremo, e sabe Deus o que mais fazem para forçá-lo a tomar "partido", já que não há unanimidade. Equivale a jogar o laço político no quintal do judiciário. Depois é só chamar o executivo de "governo", como se este tivesse plena autonomia para gerir e tivesse a função de fazer leis, para competir com o legislativo. Pronto, simples assim. O "governo" é um único alvo na mira de todos, e a pivetada toda (inclusive a base de governo) atravessa o rio na próxima curva, em segurança, longe da mídia.

Querem enxertar o processo de impeachment de estopa constitucional, e se o querem é porque a consistência de crime grave, como dispõe a Constituição, em acusação à pessoa dela não é suficientemente consistente. A Carta Régia não especifica o impeachment do partido político, então assim se conseguiria isso de tabela, destituindo-se a presidente, que tem um vice de outro partido na linha de sucessão direta. A verdadeira mudança, sequer pretendida pelo legislativo, seria a desse sistema desonesto de falsos conceitos, seria a harmonia dos partidos em favor da nação e do país. E o verdadeiro golpe não é esse da obstinação de desalojar a presidente eleita, mas sim outro bem mais ambicioso, o de violar a preferência popular pelo presidencialismo, instituindo-se um parlamentarismo à brasileira.

Fiquei feliz, porque encontrei um exemplo da lucidez do jurista brasileiro, na posição do ministro Gilmar Mendes (cique no link no final deste texto), e o seu respeitável argumento técnico prova ao leigo que o conceito certo existe, mas não interessa à política de confronto e, por conseguinte, isso não representa o interesse da sociedade. Inclusive, porque os erros das políticas partidárias, legislativa e executiva, são indefensáveis, e ainda, levado ao fim que tanto desejam, esse processo soltará no quintal do Congresso Nacional um petismo hidrofóbico, sedento de vingança, que passará a contaminar com suas mordidas os demais partidos. Alguém se pergunta a quem isso interessa? Por que a solução não seria os poderes se harmonizarem pelo interesse comum? Ah, sim... Não se interessam pelo interesse comum... Bem, ao menos deveriam se sentir envergonhados, como já estão os cidadãos que eles dizem representar.

Gilmar Mendes tornou a coisa tão simples quanto deveriam ter feito sem que a questão saísse do Congresso. O conceito é retratado pelo texto, que pertence à ele e não o oposto. Assim como os partidos pertencem ao país e ao povo, e não o oposto! Precisamos defender o conceito e a nação dos critérios corrosivos desse modelo de fazer política, segundo critérios e objetivos políticos. E sustentar o conceito de competência do Supremo Tribunal, no caso da pretensão tosca de fazer com que o judiciário legislasse sobre os trâmites do impeachment, foi o que fez Gilmar Mendes, para a minha alegria. Os tribunais existem para julgar, à luz do condicionamento jurídico pré-existente, produzido pelo legislador, e para isso seus integrantes estudam muito, mas muito mais, do que se exige dos legisladores... Por que não pediram a opinião do Supremo antes? Seria uma forma de harmonizar o Estado. Mas parece que querem dividir. Por que não regulamentaram tantas leis que esperam por isso? Porque querem governar. Juntando as pontas: dividir para governar.

POSIÇÃO DO MINISTRO GILMAR MENDES:

“Não é competência do Supremo Tribunal Federal editar normas sobre essa temática. O STF já disse que a Lei 1079 (do impeachment) foi recepcionada em determinadas partes pela Constituição de 1988. Já tivemos o impeachment do presidente Collor calcado nessa lei”.

domingo, 13 de dezembro de 2015


Foto: festivalmarginal.com.br


BOI DE PIRANHA POLÍTICO


Brasileiros que moram em outros países pelo mundo afora, e principalmente nos Estados Unidos, que sentem saudades do seu quintal, da escada do prédio em que moraram ou de outro lugar da sua infância, da sua gente, do seu jeito e da sua comida, e que continuam crescendo onde estiverem, ao que as estatísticas indicam, constituem o público leitor majoritário dos artigos desta página. Não seria sem motivos, caso se preocupassem a ponto de ter vontatde de voltar, afinal deixaram parentes queridos e têm a pretensão de voltar mesmo. Minhas convicções não são absolutas em relação a outras e creio firmemente que as soluções para todos só podem vir de todos, e todos inclui os que apenas estão longe, mas talvez aceitem o convite à reflexão. Neste artigo me dirijo a elas mais diretamente.

"Don't believe everything they think"... Lincon me perdoe, não me considero uma ameaça para ninguém. Não sou um problema para nenhum Estado e, embora algumas pessoas o imaginem, não tenho pretensão política nenhuma. Não acredito nos modelos de política que são praticados, não como caminho para soluções econômicas e sociais, simplesmente porque não encontro evidências de que a política realmente pretenda isso. Na melhor das hipóteses, apenas os políticos mais lúcidos (a minoria) deste nosso país, pretendem usar maquiavélicas soluções para solucionar o próprio ego. Ou seja, precisam delas como nós, mas não exatamente para nós. Se o pretendessem, certamente teriam outro caráter e outro comportamento médios.

Não dou meu voto para ninguém há muito tempo, e sou convicto de que esse é o voto mais poderoso, ao contrário do que se propaga com o dinheiro dos tributos. E deixei de dar meus votos porque já na época me convenci de que não importava escolher um nome ou um número. Na prática, todos votamos pela manutenção de um sistema de conceitos, não de nomes ou números, e ninguém é eleito para modificar isso. Vou além, com todo respeito a outros eleitores, costumo dizer que é o único voto realmente digno da indignação "turbulenta em que tantos se jogam". E por isso me sinto solidário com quem talvez fique pensando se valeria a pena votar, estando em outro país, e precisando das soluções para a situação local, em que esteja mais efetivamente inserido, sem poder votar para o contexto que pode influenciar diretamente seus objetivos pessoais.

Como na letra de Chico Buarque, dirigida ao falecido sambista Ciro Monteiro, "a coisa aqui está preta". Mas preciso me dirigir a gente viva, de carne e osso, mas em espírito preocupada. Isso é natural na medida em que se violaram todos os limites racionais nas instituições, e elas são pessoas jurídicas que têm o poder e a responsabilidade de promover mudanças, mas também de conter a própria degradação. Parte da população vai para a rua e se manifesta pacificamente, mas dentro do Congresso Nacional um grupo de desqualificados faz com que pareçam estar em uma tendinha obscura, discutindo erros de arbitragem no futebol! Talvez até sejam representativos da maioria, mas não dá pra acreditar que se lembrem de que têm responsabilidades com o governo do país, as necessidades de toda a nação, com a imagem dela no mundo, e não apenas com as mesquinhices dos seus quintais familiares. O que é ainda pior: a casa legislativa acha que basta um puxão de orelhas... Significa que ela está no mesmo nível.

E isso nos leva à síntese das razões do nosso constrangimento, desesperança e indignação. Saibam os que estão distantes: não temos as soluções, pelas quais pagamos uma das maiores arrecadações de impostos do mundo, mas a "coisa" é muito mais "preta", não temos nenhuma perspectiva ou indício de que esse quadro esteja sendo tratado para melhorar. O que temos efetivamente é uma espécie de boi de piranha, porque não criaram a figura jurídica necessária para qualificar e enquadrar um partido político, que devia ser impedido de exercer suas funções. Então querem impedir a presidente, para que outro pau mandado ocupe o seu lugar, e o sistema se perpetue.

Nossa Constituição (1988), bem conhecida de figurões que ainda não têm o voto do sambista Ciro Monteiro, criou uma concepção da figura jurídica a que atribuimos o termo em idioma estranho "impeachment", assim como uma outra, a "intervenção". Esta figura mereceu o idioma da terra, mas ambas foram enganosamente importadas. Ambas tiveram o perfil de caracterização de contexto definido, procedimentos também definidos, mas nada disso bastou. E não bastou porque não há o enquadramento necessário. Por isso, e para prevalecer seus objetivos "estrangeiros", do ponto de vista das necessidades da sociedade como um todo, tentam envolver o judiciário na tramóia do legislativo. Mas o Supremo é instância composta de pessoas intelectualizadas e lúcidas! E muito mais difíceis de enganar com artimanhas de quadrilha.

Não acionam o Supremo para tantas coisas que lhe dariam a oportunidade de colocar o poder legislativo no seu devido lugar, até por simples senso jurídico deste. Mas exigem que o poder jurídico se alinhe à estratégia política de um golpe equivocado. Os ministros do Supremo sabem que o golpe existe, mas é um outro bem diferente deste, sobre o qual são mantidos propositalmente os holofotes da mídia. O país pára, todos ficam esperando, muita gente lucra com isso, e enquanto rola a questão pessoal entre duas autoridades, preferíamos estar também, ironica e desgraçadamente, do lado de fora, para não ter que conviver comm tanta canalhice. Da maneira que vem sendo feita a "coisa", a boiada toda poderá passar impunemente por outro ponto de travessia, sem se exporem às piranhas que infestam o próprio Congresso.


RÓTULOS


Por vezes precisamos dar uma desacelerada no trem das nossas ideias, e dos comportamentos que deveriam ser justificados por elas. Digo assim porque hoje nem sempre isso acontece. A tecnologia das mídias multiplicou, feliz e infelizmente, as capacidades de formação de opinião e de coletivos. E digo desacelerar, porque não é fácil brecar nenhum trem, mas será mais seguro se estivermos a uma velocidade menos insensata, quando percebermos que podemos e queremos melhorar. Isso diz respeito a muitas questões na nossa vida com a mesma propriedade.

Entretanto, o que me levou a refletir sobre esse artigo foi encontrar uma considerável quantidade de amigos usando designações de ideologias, e assim colando rótulos sobre conteúdos sem que exista uma relação consistente entre ambos. E se em meu pequeno grupo acontece, a coisa deve ser bem mais grave. Pode parecer que faço um julgamento do nível de conhecimento dos meus amigos sobre ideologias, mas não é isso exatamente o que me preocupa. As ideologias e os conhecimentos particulares dos meus amigos, não são bons nem maus necessariamente. Contudo algum julgamento pode ser inevitável, de amigo ou não, dependendo do que se faz com o conhecimento que julgamos ter, e da reticente manipulação de ideias com que temos de lidar, na modernidade em que vivemos.

Precisamos ter mais cuidado com os rótulos, e não apenas os de produtos em prateleiras de supermercados, porque eles não são destinados ao consumo, mas ao estímulo do consumo. O seu pressuposto básico, a identificação do conteúdo, justificou diversas leis na tentativa de inibir o uso incorreto e proteger o consumidor. No nosso capitalismo, a internet é o mais absurdamente grande supermercado de ideias, embora tudo faça parecer que seja de imagens e em promoção, e os rótulos são isso. Ou seja, pelo que deveria identificar o conteúdo, se pode explorar o condicionamento da confiança para subtrair ou dissimular ideias, mesmo simultaneamente.

Assim, parece que devemos pensar que a manifestação contra o projeto de reorganização de escolas do governo paulista, era um protesto de garotos bem comportados, que compreendem o mérito das necessidades e responsabilidades do poder público, as tramas políticas que se insinuam nos coletivos, e que o estado de direito, que lhes garante direitos, também exige o respeito a todos os direitos. Esse caso é digno de destaque, porque podemos fazer uma lei que conceda direitos aos adolescentes organizados (eles são o futuro), ao crime organizado, até à corrupção organizada do poder público... Mas é mentiroso o pressuposto de que essa lei ensinará tais pessoas a fazer o uso correto dos seus direitos. Aplicar estratégias públicas parece bem mais difícil do que fazer leis que não intimidam ninguém.

Também assim, devemos pensar que iluminar o Palácio do Governo de vermelho seja afrontoso. Ora, a maioria da nação elegeu por quatro vezes consecutivas presidentes de um partido cuja cor é vermelha! Infelizmente para todos, fizeram mal uso das suas prerrogativas e devem pagar seus pecados, mas ainda mais infelizmente, para todos, em momento nenhum tiveram uma oposição congruente com o poder, e honesta com a sociedade que elegeu a todos. E não os elegeu para que se destruíssem mutuamente, como é o que fazem na prática política, porque a política leva a maior parte dos tributos arrecadados, direta ou indiretamente, como despesa, como custo, como falso investimento, como terceirizações caras e falhas, como desvios difíceis de se provar, e tudo sob bandeiras e ideologias de todas as cores. É fato que a política custa caríssimo. Alguém sabe os números atuais da ineficiência no Brasil? Alguém conhece algum planejamento de ação para os próximos vinte anos do Brasil? O Brasil é um imenso arco-íris social! E com mais de duzentos milhões de potes de ouro!

O socialismo é um modelo teórico de organização das sociedades, por condicionamento político, econômico e social que, em síntese, se opõe à exploração capitalista de muitos por muito poucos. Sua base surgiu na Grécia antiga, mas foi resgatada e adaptada no final do século XVIII desta nossa era cristã, por tentativa de uma parte da intelectualidade européia, sensível à luta dos trabalhadores para conter a ambição da industrialização desenfreada e assoladora, que caracterizou aquela época. Extinguia-se uma forma de trabalho escravo, de negros para brancos, mas para estabelecer outra ainda maior, de todos para alguns, sob o rótulo de trabalho honesto! Na essência, qual a diferença? Mudaram os rótulos, mas o espírito de dominação e exploração é o mesmo! E justificava plenamente as ideias de redistribuição da riqueza e descentralização do poder, por efetiva representatividade da nação, duas filhas da ideologia socialista. Uma foi vendida para os bancos mundiais, e a outra foi prostituída aqui mesmo, ainda adolescente e sem compreender bem o que acontecia. Não pode haver dúvida, basta perguntar: quem ganhou com isso?

O comunismo... Sim, aqui fazem pior. A ideologia foi usada como rótulo por governos ambiciosos e violentos, que provocaram um grande conflito e acabaram perdendo a guerra. Mas como não há balas que furem ideias, para esterilizar as mentes os americanos do norte demonizaram o rótulo, como a igreja fez com as bruxas, o nazismo fez com judeus, como voltou a ser feito depois em outros países, e como ainda hoje ém feito até sem peles branquinhas de cordeiro. E se determinadas ideias não morrem, resistem por milênios à genética que tenta lhes exterminar, é porque nem tudo nelas é condenável e a parte verdadeira recomeça a fazer sentido de tempos em tempos. O comunismo é grave porquanto é radical. É considerado a última etapa, o ápice do desenvolvimento das concepções socialistas, em decorrência do enfrentamento ideológico e institucional também radical que receberam. Levaram a extremos conceitos tais como o do paternalismo do estado, da propriedade pública e do controle do poder do capital pelo estado. Esses conceitos extremos e inviáveis despertaram a ira do capital.

A política não faz hoje nada de novo nesse país. Sempre que se tira o foco do bem comum para privilegiar os particulares (ou de pequenos grupos), a consequência é uma escalada competitiva e destrutiva pelo poder, genitora de impérios, de posições cada vez mais radicais, comportamentos que mais violentam direitos, respaldados por leis degeneradas que são feitas para "legalizar" escolhas erradas, enquanto mecanismos de controle simplesmente nao são feitos. Tenta-se justificar os erros que se proliferam em cadeia, uns com outros, numa guerra particular que ignora os seus efeitos destruidores e a própria sociedade. Ora, não é o conceito de "ser comum" que está errado, nem a cor da iluminação que enfeita o Palácio do Governo, em Brasília, mas o que se faz para impor o conceito de ser privilegiado sem limites, e por objetivos, critérios e meios, que não contemplam a naturalidade de ser incomum! A não ser pelo egoísmo exacerbado, inconsequente, o que não deixa de ser incomum, e portanto essencialmente anti-comunista.

A representatividade política somente dará frutos doces para todos, quando os seus interesses particulares não competirem com o interesse público, quando a ambição for o bem comum, quando o exercício da gestão da coisa pública não for uma profissão excludente, mas for técnica em vez de política. Critérios políticos têm por objetivo resultados políticos, que desprezam a relação entre o rótulo e o conteúdo; critérios técnicos produzem resultados técnicos, que não excluem rótulos, nem ideologias, nem representatividade, e nem as ciências não exatas, nas quais a política se sente tão confortável. Em um governo técnico haverá mais exatidão, responsabilidade, perspectivas positivas confiáveis... Menos incerteza da herança que deixaremos, menos vagas nos presídios (por mais tempo) e menos rótulos enganosos.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015



O POSICIONAMENTO E A CONTRIBUIÇÃO JUSTOS


Refletir sobre o caos que vivemos, sobre como devo me posicionar e sobre como posso contribuir para um estado melhor, mais evoluído, de todos e do meio que criamos, é para mim uma tarefa desafiante por várias razões. E em boa parte a culpa é minha, dos meus princípios e da minha natureza. Claro que não são privilégios meus, cada um tem a sua individualidade, mas não me vejo o tipo do sujeito popular, simples demais, fácil demais. Uma vez, lá se vão décadas, um dos meus chefes me disse que eu era exigente demais comigo mesmo. Hoje penso que ele tinha a sua razão, e isso talvez explique a maior parte, em vez do quanto exijo de outros. Coisa difícil, isso de enfrentar e mudar nossa própria natureza. Passam as décadas... Mas parece que os sentidos que vejo na vida não passam. Não vejo sentido útil em ver as coisas por um prisma excludente, tudo tem vários lados e cada parte só tem a sua consistência completa em relação ao todo.

Voltando ao cotidiano incerto e conflituoso que estamos vivendo, a minha resistência em ser popular ou fácil tem um motivo que salta aos meus olhos críticos: não há certos ou errados, mas certos e errados. Não é possível ser justo olhando apenas para uma parte. Não tínhamos tantas liberdades, mas hoje não sabemos usá-las. Tínhamos alguns poucos partidos, claramente definidos, bem mais coerentes, estáveis e compreensíveis; propriedades que não duram ou nem existem na multiplicidade inútil de hoje. E sobretudo, todas as dificuldades tinham um só e grande autor, culpado, vilão, algoz, enganoso, insidioso e dissimulado para conseguir o pouco que ainda lhe faltava de poder, enfim... Os portadores das nossas esperanças daqueles tempos, justo os que sobreviveram (não havia grantias disso), hoje ainda estão nas manchetes, só que são manchetes vergonhosas para os que acreditaram nos seus discursos, e em grande proporção são agora os seus algozes.

As instituições privadas relacionadas à função pública, ou que exploram a demanda de necessidade pública, que podiam e deviam suprir em parte a deficiência do Estado, parecem se recusar a cumprir um papel social mais efetivo, ou optar sempre pela alternativa dos seus lucros e interesses particulares diversos. Nestes tempos em que a tecnologia nos largou como ninhadas em cestos, às portas das mídias de massa, a informação (ou a desinformação) tornou-se não uma opção de cardápio, mas uma droga não proibida, sob rótulos muito pouco confiáveis, enquanto se proibem tantas coisas para beneficiar e manter o Estado incompetente, e não necessariamente a população contribuinte.

O posicionamento e a contribuição justos não seriam suficientes para nos assegurar as soluções que precisamos. Mas a sua ausência promove os sectarismos revoltosos e impulsivos, desordenados e improdutivos para o todo, a manipulação de coletivos que querem participar mas não sabem como fazê-lo, a não ser violando direitos de todos em nome dos seus pretensos direitos particulares. Podemos crer que um dia sairemos pelo outro lado do túnel, mas então com certeza muitos empurrarão a celebração para depois. E se hoje alguns celebram pequenos resultados, ainda não se deram conta da responsabilidade que lhes pesa nos ombros, e nem do sofrimento que causam a tantos durante o percurso, simplesmente porque só se importam com os seus objetivos pessoais mesquinhos. Investir-se do poder do Estado para satisfazer a si próprio, mesmo que apenas por vaidade e sem enriquecimento, talvez não seja crime de responsabilidade fiscal... É de responsabilidade total.





segunda-feira, 7 de dezembro de 2015



GENÉRICO POLÍTICO


Por vezes é curioso e estranho o modelo mal conduzido de fazer política de oposição, neste nosso Brasil. Tenho nestas ocasiões uma sensação de que nada, absolutamente nada, se salvará deste modelo quando enfim tivermos outro. Tenho escrito repetidamente, na tentativa de oferecer reflexão, que não é possível gerir um país com as nossas dimensões e complexidades, sem que tenhamos um planejamento técnico de grande alcance, pelo qual cada coisa possa ser compreendida como peça de um todo, de onde se deduza com clareza os objetivos, critérios e meios, a noção do que há para ser feito e a apropriação de responsabilidades específicas pelo que deixou de ser feito, ou foi mal feito. Mas do modelo de oposição, se deduz mais: os acusadores também não tem ferramenta semelhante, tanto que sequer conseguem demonstrar alguma estratégia conjunta, salvo na pontualidade efêmera de cada momento. O conceito é cada um por si, e ninguém pelo país.

Eu quis imaginar que a imensa escandalosidade da corrupção na Petrobrás seria muito melhor explorada estrategicamente pela oposição. E que nesse caminho se estimulasse a juventude contra a política de situação, por seu poder de influenciar a maior e mais estratégica empresa deste país. Mas a oposição preferiu ou não foi capaz de fazer isso. Pior, fez muito pior, curiosa e estranhamente, o governo de São Paulo, reduto de oposição, conseguiu a proeza de levantar os estudantes, só que contra si próprio! Ora, se não freassem esse trem, em breve teríamos uma reedição de caras pintadas, porém dessa vez com as cores paulistas. e num rasgo de oportunismo da política de situação, um pedido de impeachment do governador.

Em outra evidência da miopia, natural também da ausência de um plano comum e da inconsequente ambição do poder que projetam na figura de um cacique, em vez da estratégia de desarticular a relação entre a presidência e a base de sustentação política (o PT sozinho não pode tanto), escolheram desastradamente apontar todas as balas para a pessoa da presidente, eleita pelo povo, embora da última vez por uma pequena margem. Salvo por uma injunção atípica, com força de contexto mas justificável, seria mais fácil para um chefe de Estado interferir diretamente em uma investigação como a lavajato, presidida por um representante do poder judiciário, com respaldo constitucional para agir com independência, do que interferir diretamente em contratações, mesmo as da Petrobrás. Porque um presidente precisa presidir, ou até se diria aqui governar, mas para fazer isso não poderia "presidir" milhares de reuniões contratuais, pelo país afora. Somente essa impossibilidade já torna bastante inconsistente a culpabilidade pessoal da futura investigada, sem considerar o fato de que o partido e os marqueteiros são os gestores das campanhas. E nem poderia ser diferente.

As acusações que compuseram para o trato pessoal do seu objetivo, apontam realmente para má gestão da coisa pública. Entretanto, o mau resultado global do governo não pode ser, a não ser levianamente, atribuído unicamente à pessoa da chefe de Estado. Qualquer cidadão que se disponha a ler a nossa Constituição, verá que ela partilha a função de governo, entre o executivo e o legislativo. E por isso é sim, leviano, tratar o executivo de governo, para não atirar no próprio pé. Até mesmo o judiciário espera pelo legislativo de mãos atadas, para diversos assuntos. E os eleitos para legislar não têm tempo, e nem desejam legislar. No Brasil, o legislador quer governar. E essa é a principal razão desse caos. Antes, para a nação, partilhassem sucessos e fracassos com o executivo e o judiciário. É esse o conceito original, que não interessa aos objetivos da política do legislativo.

E na falta da congruência dos poderes, o remédio que nos oferecem é um genérico pouco eficaz. Um simples princípio ativo, compreensível por mentes simples, de preço dito cômodo, apresentado como panacéia para todos os males: impeachment da presidente!... Nosso congresso legisla com mentiras amarradas à cintura. Mas que são potencialmente explosivas para todos. Alguém dentre os patriotas congressistas percebe que o PT continuará nas casas legislativas, nos meios de comunicação e nas ruas, que seus integrantes e simpatizantes são cidadãos brasileiros com plenos direitos e que também querem punição para criminosos? Não são menos do que estes que aparecem nas manifestações, nem os que recebem um formulário de pesquisa de opinião. Tanto que elegeram petistas para a presidência em nada menos do que quatro eleições. E eleições sucessivas, ou seja, passando por cima do desgaste cumulativo causado pelas oposições a cada mandato.

Será que alguém dentre os patriotas exaltados reflete que o impeachment eximirá a presidente e o seu partido, da responsabilidade de contribuir para a terapia intensiva que será necessária ao país segundo o senso clínicon emergencial de outro partido?...

Mentem para enganar, os que afirmam que o impeachment impedirá o petismo, e não apenas a presidente. A política dissimulada desperta um tal de gigante, mas não lhe oferece mais do que uma parafernália de bordões a serem escritos e repetidos. Plano nenhum, coerência nenhuma, congruência nenhuma, responsabilidade nenhuma, perspectiva de mudança efetiva, nenhuma.

sábado, 5 de dezembro de 2015


(Foto: folhams.com.br)


LEIAM MAURO SANTAYANA


De mãos dadas às do Mauro Santayana (veja sua posição em O Globo de hoje, link abaixo), poderíamos acrescentar reflexões que não se encontram com facilidade, em relação ao esforço inconsequente de desalojar a presidente, com base em acusações apontadas quase sempre para o partido. Ou seja, os partidos se enfrentam, e pretendem oferecer como solução derrubar a presidente eleita. Mas depois, a briga desleal dos partidos continuará acumulando prejuízos para a sociedade, enquanto alguém terá que se alojar no centro do alvo, no lugar da mosca, e será também obrigado a "pedalar", porque matemática é uma ciência exata, e porque a ambição de poder do legislativo não deixará espaço para ninguém individualmente.

Há um aspecto, ao que parece, que não se cogita. Apesar da euforia da tribo mais impulsiva dos desafetos do petismo, ainda não ganharam coisa nenhuma. E talvez caminhemos para uma perspectiva inversa. É sim possível, e não apenas por matemática, que façamos todo o percurso, meses de procedimentos roteirizados, e ao final a presidenta seja absolvida das acusações que compuserem contra ela, e como compuserem. Vejam, trata-se de um julgamento. O processo não poderá contemplar todas as pretensões de acusação. O que significa: o impeachment não solucionará os nossos problemas, não assegurará perspectivas melhores, e não anistiará os acusadores no futuro. Absolvendo-se a presidente, ela estará blindada por muito tempo, e agradecerá por isso aos seus opositores, que deverão estar em franco processo de autoflagelação expiatória.

Ainda mais difícil de encontrar nos dizeres de tantos especialistas, estrategistas e tal, é algo óbvio que pode depois se revelar um erro de todos: deslocando-se a situação do poder, ela e a sua base aliada estarão sendo eximidas de cumprir seu compromisso, e reorganizar o caos que ajudaram a criar. O enorme e desgastante trabalho de curar as feridas caberá aos acusadores. Então cabe aqui perguntar à reflexão de todos: do ponto de vista da sociedade, qual a vantagem de fazer isso, e quais as garantias efetivas de que o próximo boneco não cairá também do palco, antes de cumprir sua parte? Não há vantagem nem garantia para a sociedade. Isso tudo só tem interesse efetivo para a política, que poderia usar outra estratégia para a correção do rumo. Ou nem mesmo seria bom para a oposição, devido ao adiantado estado de decomposição. Desculpe o trocadilho.

Outro aspecto: o Congresso Nacional ficará por conta disso até o final do processo, e nada mais será capaz de fazer das tantas coisas importantes que esperam. Ou seja, as pessoas que estejam ameaçadas por essa paralisia legislativa, estão investindo pesado no processo de impedimento para ganhar tempo, e outras coisas. E ainda não se cogita em protelar o recesso parlamentar para depois! No caso, retardar a solução em dois meses é muito, equivale a um terço do tempo previsto pelo roteiro para o esgotamento do processo.

Mais um aspecto pouco ou nada comentado: durante o processo, não existirá a figura da presidente no comando, ela estará afastada dessa função. Em seu lugar deverá estar o vice. Mas talvez apenas até a consumação, e provisoriamente a sua figura não será comparável. E então, o que outro partido poderia conseguir em tão pouco tempo, do que não se conseguiria em um mandato inteiro? Quem se proporia a mais essa mentira, e ao seu desgaste potencial?

A abordagem de Santayana é correta e ampla, coisa difícil de se ver a julgar pelas perspectivas que os políticos em geral sabem nos oferecer.

O Impeachment, a Antipolítica e a Judiciação do Estado (Mauro Santayana, 5/12/2015)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015



MAIS PARA A ESQUERDA... DIREITA... JUNTA!


A imagem que nos faz falta não é a de políticos, como as que abarrotam a mídia nestes nossos dias, com os requintes tecnológicos do Photoshop e os de sarcasmo autodestrutivo de quem quer fazer politicagem, por vezes desrespeitosa, como se o estado de direito pudesse tolerar o uso indevido de direitos, ou privilegiar alguns com prejuízo das suas vítimas, já devassadas pelos próprios erros.

Fomos eleitos, desde antes de elegê-los, para viver em um tempo importante para os nossos futuros descendentes. Mas em tantos vejo não haver essa consciência. Como se sentem hoje os descendentes dos criminosos do regime militar? Não será possível impedir para sempre a exposição da verdade? Em grau menor ou maior, o mesmo ocorrerá com os que fazem a realidade de agora, quer políticos quer politiqueiros, quer produtores quer consumidores.

Enganam-se e enganam os que vêem a história como frames estáticos, isolados de um contexto poderoso e caudaloso. Todas essas imagens que sobretudo mostram a índole de quem as publica, talvez sirvam aos seus interesses particulares fugazes, mas não elucidam, não educam e degradam o verdadeiro caráter que a participação deve ter, na medida em que desprezam o bem comum e o estado de direito.

Clique aqui, ou ali, compartilhe, curta... Claro, isso é um processo social, facultado pela tecnologia de informação, que derruba as barreiras da distância geográfica. Mas ainda não há tecnologia para assegurar outros caráteres. Como também a passos mais lentos vai a criação de leis e jurisprudência capazes de condicionar mais adequadamente o uso da tecnologia, e dos direitos.

A imagem que merecem todos que constituem a nação brasileira, não mostra ideologias nem políticas que com elas se rotulam, e muito menos mostra políticos. E ainda que se os vejam, veremos como pessoas comuns que relmente são, iguais a todas as outras, com as mesmas necessidades, sem estrelismos. Essa imagem, que hoje ainda é uma projeção de anseios, expressará os resultados de todos os esforços. E sobretudo não será produto de edição de imagem. Não se dirá "para a esquerda" ou "para a direita". Nem será preciso dizer "junta" e muito menos "sorria!".

Mas até lá, será preciso refletir mais sobre como participar desse processo.


ESPERAR?... NÃO QUERO ESPERAR!


Esperar?... Não quero esperar! E também não quero comer cru, pois que cada coisa deve ter seu tempo justo, segundo o meu direito à justiça. Não quero estar submetido à conveniência do cozinheiro. Esse é o erro elementar e todos os outros são cometidos depois deste. Quero saber, mais do crer, que a carne que venha debaixo do angú tenha a "procedência" que eu mereço, e não a que queiram os que eu pago para me servir, e me informar, porque tudo tem "procedência". Já é tempo de se corrigir o conceito de tudo: o patrão sou eu!

Quando usam uma palavra de modo a induzir outra idéia, tentam me enganar. Quando escondem algo de alguém que me representa, o escondem de mim. Quando não me oferecem as perspectivas que me interessam, me fazem de vegetal. Quando legislam em interesse próprio me traem. E traição é crime, embora por aqui não exista a instituição jurídica da pena de morte. Aliás, por aqui não exitem penas às quais o legislador se arrisque a estar submetido algum dia.

Mentem todos os que se favorecem da mentira, basta se perguntar quem ganha com ela. Enganam os que se acusam dentre os marujos. Estamos todos no mesmo barco, num só rumo até onde aportaremos, ou haveremos de afundar todos. A diferença é que alguns de nós se propuseram espontaneamente a conduzir o barco. Não fogem das suas remunerações e outros direitos, e mais vantagens que nem são direito, mas tentam descer o escaler das suas responsabilidades. Aonde pensam que vão, eles e os herdeiros dos seus crimes?

As ideologias em geral são inimputáveis. Não são elas que cometem crimes, mas os que as usam como falso rótulo. As coisas não são assim mesmo, na prática são como são feitas, segundo o interesse de quem faz. Creiam (porque não tiveram oportunidade de saber) que qualquer forma de socialismo, inclusive o demonizado comunismo, poderia ser útil. Até mesmo o tão degenerado paternalismo do Estado, poderia ser bem exercido, se o fosse em nome de todos, por todos e para todos. E porque não o capitalismo consumista, o neoliberalismo sem pejoratividade? Desde que se pudesse saber da carne sob o angú oferecida pelos mercados ditos pretensamente livres, sem mentiras e equívocos patrocinados por outro patrão (desculpe a redundância), que não eu.

Não quero esperar nem mesmo para que tenham tempo de colher minha opinião. Não há rua neste país em que caibam os duzentos milhões de cidadãos, que pagam por direitos que já são seus e pela dignidade que cabe ao Estado prover. Pela que cabe a mim mesmo, respondo eu. Neste país, plebiscitos e consultas não são o que parecem. As respostas alternativas são montadas para respaldar esta ou aquela estratégia, ou seja, o meio não se justifica, mas é o fim que justifica o meio.

Não devo temer a paralisia, se ela engendrar a queda deste sistema sórdido de conceitos que se pratica, nas entrelinhas da lei: "tudo foi declarado". Propor um compromisso que depois não se conseguiu implementar, não é exatamente uma mentira. A mentira, por exemplo, é não apurar o porque de não ter sido implementado, e não punir os responsáveis. A mentira é a impunidade, falsamente atribuída à "arte" da política. A mentira é alegar que falta arrecadação de tributos, falta chuva nos reservatórios... O que falta é a dignidade da gestão, a mesma que se vê quando dizem que "cada gota conta". Mas as que são perdidas no trajeto de distribuição não contam.

Não devo temer a paralisia porque os que estão empossados, mais do que eu que os escolhi dentre outros, estão compromissados com as soluções, e não deveriam ter o direito de abandonar o barco, não no meu escaler... Sim, depois que encoleirarem os demônios que criaram, talvez eu permita que pulem, e tentem chegar a nado. Mas aí não vão querer. Pelo menos, depois de me convencer de que angú pode ser uma boa refeição. Não para mim que sou o patrão. Mas para abarrotar as quentinhas do presídio, porque até isso eu tenho que pagar do meu bolso, contra recibo para a sociedade.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015



O GOLPE DENTRO DO GOLPE


Com enorme frequência ouvimos e lemos falarem em golpe, referindo-se à determinação política de desalojar a presidente e o seu partido, numa clara manifestação de inconformismo pela preferência popular, que elegeu representantes do mesmo partido em quatro pleitos sucessivos. O desgaste desta guerrilha política chegou a um estágio insustentável. É preciso fazer o Estado saber do serviço à nação, antes que ela não acredite mais no Estado, e a representatividade se degrade de enganosa para inexistente.

Nesse cenário que vivenciamos, provavelmente às portas de um penoso processo de impeachment presidencial, podemos prever que a formação de opinião pública será estratégia chave, mas não bastará que tenhamos opinião. Devemos todos dispensar mais tempo para a leitura e a compreensão do que realmente está sendo feito neste país, com a isenção que o benefício comum necessita, porque quem faz sabe que precisamos ler mais, e se aproveita disso em benefício próprio.

Ninguém deve se auto-excluir por achar-se pouco técnico. Há técnicos demais neste país, com responsabilidade demais. O que falta é conceito. O conjunto de conceitos que vem sendo praticado é um sistema ideológico poderoso e controlador, um híbrido ideológico semelhante a uma colcha de retalhos, que favorece grupos pequenos com prejuízo de outros, imensos, que entretanto pagam a conta. Se este sistema de conceitos não for desalojado do poder, será inútil ficar trocando nomes, de pessoas ou partidos, porque ambos são rótulos que não especificam o conteúdo que efetivamente praticam.

Este momento é precioso para a reunião de intelectos congruentes, mandatários ou não, com objetivos comuns vistos pela perspectiva da qualificação de cada elemento. A título de exemplo, pode-se sugerir a leitura do documento composto pelo movimento "Por um Brasil Justo e Democrático", cujos volumes já estão disponíveis, em dois volumes e no formato de dados PDF, nos seguintes links:

POR UM BRASIL JUSTO E DEMOCRÁTICO - Volume 1
POR UM BRASIL JUSTO E DEMOCRÁTICO - Volume 2

O entendimento do sistema de conceitos que se pratica, poderá passar ainda pela leitura da Constituição de 1988. Nela se verá claramente a intensão de aumentar o poder de governo do congresso nacional, além do poder de legislar, com perda ou dependência do poder executivo. Isso representou o estabelecimento de respaldo constitucional para a migração para um regime parlamentarista, contrariando dissimuladamente a vocação e a preferência popular comprovada por plebiscito.

O conceito não está explícito na lei, mas é o que se pratica. Por exemplo, o legislativo pode competir com o executivo, e não apenas fiscalizar. E assim sendo, o presidente da câmara (congresso nacional), eleito indiretamente por deputados, pode praticar chantagem para impedir a investigação de que está sendo alvo. Para isso guarda na sua gaveta pedidos de impedimento da presidente, eleita por milhões de eleitores, além de afirmar conhecer informações que derrubariam a muitos. E a comissão de ética da casa balança, porque também está submetida ao sistema de conceitos.

O golpe a que todos se referem se constitui da tentativa de derrubar o inimigo, quando não poderia haver um inimigo dentro do Estado. E é apenas mais um desdobramento do golpe mais amplo: o golpe parlamentarista que, inclusive, inseriu na constituição que o congresso nacional tem o poder de solicitar uma intervenção militar, federal, ou seja, de um órgão subordinado à chefia do Estado, a presidência, a inimiga do parlamentarismo. Onde está o conceito nesta barafunda?


O SENSO DE DIREITO À BRASILEIRA


Absurdamente estranho é o senso de direito, maquiado pela ambição de poder, que permeia e justifica a nossa política desonesta, sediada nas casas legislativas (onde as leis são feitas e regulamentadas) porém hoje encovilhada em todas as instâncias do Estado. É um contra-senso público. A ambição usurpa o espaço do interesse público, e transforma a gestão do bem comum em enfrentamentos pessoais, por vezes dissimulando a covardia do terrorismo e do crime organizado. O que essa política faz com a representatividade, é traição, por ação e omissão.

Mais revoltante não perceber a chantagem óbvia por trás das palavras, e dos olhares sórdidos, de quando dizem tipo assim "se eu cair arrasto muitos comigo". Pior, muito mais aviltante, é não haver uma reação imediata das próprias casas, porque isso demonstra que não nos falta apenas a lealdade de quem o diz (ação), mas também falta a perspectiva da correção (omissão)!

Esse bordão assegura o caráter criminoso de quem o usa. E não poderia ser suposto como blefe, porque não se trata de um carteado de pistoleiros americanos, não estão num "saloon", e porque nem todos os apaches estão mortos ainda. Foram alfabetizar os tupiniquins para rechear de argumentos a propaganda, agora está a cada dia mais difícil enganá-los com pentinhos e espelhinhos.

Os brasileiros que não se dependuram nas tetas do erro, não podem aceitar que autoridades legislativas de primeiro escalão, sob investigação, sugiram conhecer fatos e documentos (provas) passíveis de condenação, que eles tenham o direito de esconder em alguma gaveta, para usar oportunamente. Esse comportamento é criminoso e não apenas anti-ético. Querem parecer poderosos aos olhos do público? Querem desafiar a justiça? Na verdade querem também intimidar e turvar a razão dos que querem corrigir, o que os tais investigados não corrigiram enquanto tiveram chance.

Atitudes desse tipo, mais que propinas, estão levando todo o sistema de conceitos à mais imoral nudez, porque nestes casos, as provas materiais necessárias ao entendimento e à condenação já são suas próprias e inequívocas declarações. O que mais é necessário? Se houverem outros a serem condenados, isso não deve absolver delatores criminosos, como se faz crer hoje neste país que seja compatível com o senso de direito, não com o senso de direito daqueles que escolhem viver honestamente.

Em um país onde advogados têm o direito de turvar e retardar a justiça, onde juízes são absolvidos, por fisiologismo, de erros que condenam qualquer cidadão, e ainda se penaliza o louvável rigor do agente público que registrou o erro, no cumprimento do seu papel... O que podemos esperar a nosso favor desse sistema falacioso?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015



COM POUCA SEDE AO POTE


Devemos esperar ao menos um resultado positivo deste processo de impeachment. Nosso povo precisa amadurecer, amadurecer muito, e essa experiência sem dúvida será importante. Sobretudo, porque somos um povo jovem, dividido entre a perplexidade, a insegurança natural de sentir-se diante das incertezas, de ter que conviver com isso e, de parte das gerações mais experientes, com a lembrança nem tão distante dos riscos de um regime de excessão, justificado perda perda do controle da institucionalidade. Não nos esqueçamos de que, havendo realmente um processo, não haverá a figura da presidente no comando (e das suas prerrogativas) até a consumação.

A mídia cobriu com alvoroço a notícia do "início do processo". Então vejam que o amadurecimento terá que incluir também as instituições privadas, especialmente as que exploram a informação, em um regime capitalista e com objetivo de lucro. Na verdade isso ainda não aconteceu. Até aqui, apenas alguém solicitou à presidência da câmara dos deputados que permitisse o processo, e este, resolveu que era a hora da sua conveniência aceitar, segundo uma estratégia que visava dois objetivos: primeiro, uma chantagem para evitar sua própria condenação, numa forma diferente de impeachment, chamada de destituição; e segundo, esperar pela certeza da consistência da condenação, ou seja, não desperdiçar a oportunidade, talvez única, correndo o risco de deixar sua desafeta pessoal ser absolvida. Rato velho da política, afinal seria perda total ser ele destituído e ela reconduzida ao exercício, dado em segundo mandato por votação direta, nessa hipótese ainda muito mais forte.

Temos sede. A crise política gerou muitas filhas feias, também chamadas de crises, mas que infernizam muito mais a vida do cidadão do que a do político, que as criou. Temos sede porque, ainda que não se castiguem tanto os personagens conhecidos, o cotidiano tem posto à mostra uma realidade terrível e de imensa magnitude. O erro, já se pode ter certeza, é muito grande, não é uma exclusividade do partido da presidente. Todo sistema está todo contaminado, contaminando tudo que toca, está em franca deteriorização. Ora, trocar pessoas de posição não será suficiente, nem tornará o tratamento muito rápido. Este tratamento exigirá sacrifícios, e talvez mais sede.

Bem, como temos um povo jovem, parecem muitos os que se lançam, por impulsividade, até em celebrações, bem antes de que haja alguma definição. E neste ponto há algo que se revela e me preocupa muito. Tenho dito que neste país a representatividade política exclui a sociedade como um todo, em favor do particular, do ego, do foco pessoal. Mas se parte significativa do povo demonstra ter a mesma miopia, então a verdade é muito mais grave. Pensar que este estrato ideológico tenha representação natural na política legislativa e executiva pode até ajudar a compreender, mas tomar o errado por certo não ajuda a solucionar.

Há uma sucessão de procedimentos previstos, um roteiro que terá de ser seguido sem arbitrariedades. O impeachment tem sido ferreamente perseguido pelas oposições, que não se julgam responsáveis pelos efeitos colaterais dessa estratégia. E o processo é uma prerrogativa parlamentar, dentre muitas outras estabelecidas pela constituição em vigor, assim como solicitar a intervenção militar. Mas em dado momento deste roteiro, os políticos da situação também terão oportunidade de decidir. Não puderam impedir o pedido e a aceitação do processo, não dependeu da força política deles, mas iniciado o processo eles estarão em campo.

E ninguém se engane. Ainda que ao final sobrevenha uma condenação da presidente, não se extinguirá nenhum mandato legislativo, e a sede política de retaliação terá a mesma intensidade, só que do outro lado, da que sentem os inconformados por quatro mandatos sucessivos dados por voto direto, apesar do tamanho desgaste produzido pela competitividade política, quando deviam estar todos reunidos em torno da responsabilidade para com o país, e com os milhões da miséria que nele habita, e paga, sem sequer saber o que significa a palavra inglesa da moda, que mal conseguem ler. A dignidade de todos os brasileiros é uma responsabilidade do tamanho do país, mas a julgar pelos sorrisos nas entrevistas, não se vêem políticos que pareçam preocupados com isso.

É de se sugerir, que devam todos valorizar a sensatez, neste momento e pelas próximas semanas, indo com pouca sede ao pote. Ainda não se ganhou nada, não se mudou nada para melhor, e sem lucidez talvez não se tenha melhora nenhuma, porque mudar o sistema de conceitos será mais efetivo do que trocar nomes. e o impeachment não se propõe a isso.


SOMENTE A REEDUCAÇÃO DO EGO PODE SALVAR A HUMANIDADE, DE SI PRÓPRIA


Antes de mais nada, tenho convicção de que o planeta não é um refém dos seres que produziu, nem mesmo da humanidade, como se usam tecnologias avançadíssimas para apregoar na mente de todos. O planeta pode estar com a derme doentia, mas a terra é um ser vivo, e pertence ao nosso sistema solar, à nossa galáxia e ao universo. O planeta teve um nascimento, terá um esgotamento, e continua seu processo de desenvolvimento, à revelia do que acontece na sua casca mais fininha e mais superficial.

E é sim, muito lógico e razoável deduzir, que ele também tenha o próprio destino, nem tanto relacionado ao homem, e muito mais a outros corpos celestes, do seu tamanho. Nossa embarcação, a ciência o sabe hoje, já sofreu avarias colossais, cataclismos terríveis, e deu provas de uma capacidade de regeneração ainda maior. A natureza não vai acabar, nem a água, nem o ar que ainda nos é gratuito. Mas a humanidade, como civilização, caminha para a própria destruição. E também sabemos que esse filme é um plágio, sem haver quem reclame direitos autorais, porque os antigos autores morreram com os seus erros.

Também estou convencido de que essa ameaça é intratável, e uma improvável solução, ainda que seja vislumbrada, não pode ser gerida por nenhum governo, muito menos pelo governo amiguinho do super-herói da moda, até porque ela tem razão em uma diversidade incontável de problemas, que seriam igualmente intratáveis individualmente. Contudo, é possível racionalizar, desde que, o grupo que se incumba disso queira realmente mais isso, do que lucrar com a ideia do fim, e com a paranóia das massas. Ah, sim, claro... Um coletivo de governos isento, justo e confiável, em vez de coletivos conduzidos por lideranças sem isenção, poderia sim fazer o que falta para reorientar a destruição, até que a reversão fosse tecnicamente plausível.

Parece platônico? Penso que não seja. E vou além: pelo andar da carruagem, em um futuro próximo, todos irão querer pensar como eu, em face da inexistência de alguma alternativa e do grau terminal do organismo da civilização. Esse estado de tratamento intensivo, obrigará ao entendimento de que o ego, das pessoas, das famílias, das instituições, dos governos, enfim, de todas as formas de inviabilizar a união em favor de objetivos comuns, é a síntese dos problemas, e de que o poder destrutivo e de domínio, cujos genes se insinuam na sua genética vestindo peles de plácidos carneirinhos, é a síntese dos métodos de convencimento.

Ora, não se chamaria de platônico um otimismo que se baseasse na simples história. Senão vejamos. Temos neste país um caos político que produz outros, por ausência de união e congruência no exercício do papel do Estado. Somos herdeiros da colonização por degredados europeus, e de um rei que abriu mão de unir-se a outros contra Napoleão, e nem mesmo quis unir seu próprio povo. Nossos índios nativos foram praticamente exterminados, porque já eram na época restos isolados da degradada raça que chamamos de tronco tupi-guarani, e cuja desunião pôs seu poderoso reino a perder.

Mas nossos nativos não foram exterminados porque lutavam com paus e pedras contra portugueses armados de ferro e pólvora, e sim porque a sua desunião inviabilizava o aproveitamento da vantagem numérica, do conhecimento do terreno, bem como de uma logística muito menos exigente e cara. Eram alguns milhões de índios, quando começaram a chegar no litoral algumas naus trazendo uns gatos pingados mentirosos, mas abarrotados de ambição por riqueza.

Como a escravização de índios dava poucos resultados e muitas emboscadas, a de negros africanos era bem mais rentável e, sobretudo, muito mais fácil. Bastava apoitar em determinados abrigos nas costas da África, já que tudo se repetia lá também. O continente africano pertencera a raças poderosas, mas aquelas tribos da idade média guerreavam entre si, capturavam os vencidos e os vendiam a um intermediário, que os embarcava na costa, para o Brasil, para a América do Norte, Canadá... Resultado da desunião: milhões de negros escravizados, poupados os milhares que felizmente morreram durante a viagem.

Aqui no Brasil, no prosseguimento, segundo os primeiros censos oficiais, havia o equivalente em negros e mulatos escravos a pelo menos três vezes a população européia dominante. Caso fossem etnias unidas, em maior número de indivíduos do que os que se refugiavam em quilombos distantes, os capitães (donatários), a nobreza que veio com o rei, o império, talvez fossem massacrados, como aconteceu exporadicamente em outras colônias pelo mundo.

Teríamos muitos outros exemplos no passado. Moisés quis unir os hebreus e Maomé os árabes. E aqui está um exemplo importante. Hoje, se judeus e árabes se unissem, qual outro povo teria tanto poder? Menos que isso, bastava que os árabes fossem capazes de unir-se entre si. Ou Rússia e China.

O ego, infectado pela ambição, seja na dimensão de uma pessoa ou na de uma nação (governada por egos), deve ser reeducado para aprender que abrir mão de uma parte sua em favor de um coletivo, com um objetivo claro e métodos organizados, pode levar a um poder imenso, o maior e mais verdadeiro poder ao alcance de tão ínfimos deuses. E unicamente esse poder humano, pode poupar a civilização e a humanidade da auto-destruição tão potencialmente próxima.

Por que não se põe nisso prioritariamente o foco, em vez de eleger fenômenos da natureza, que são consequências e não causas, para criar pânico e desorientação?... Porque o ego de alguns quer vender e o de muitos consumir notícia, porque o pânico dá lucro, porque a política divide as pessoas para que assim melhor as represente e as explore... Porque o ego não mede as consequências de enganar. E porque criamos um universo enganoso próprio, governado mais por conceitos falsos do que por pessoas falsas. E achamos que trocar algumas individualidades resolve, como se elas pudessem ser, ainda que o quisessem, a causa de tudo.

Não pomos o foco na diversidade, não temos um planejamento panorâmico, não respeitamos todos os direitos... Mas o ego não abre mão de um só dos seus direitos.
Casa de Pedra, Itaipu, Niterói, RJ


PRECISAMOS DE REPRESENTATIVIDADE, DA POLÍTICA QUE TEMOS NÃO


QUANDO DIGO QUE O BRASIL NÃO PRECISA DE FALSOS E BEM PAGOS PATRIOTAS EM CARGOS PÚBLICOS ELETIVOS, E QUE O EXERCÍCIO ESPONTÂNEO DA REPRESENTATIVIDADE POLÍTICA É O FUTURO, AINDA TEM GENTE QUE DUVIDA... POR QUE PRECISAMOS DESSES NOSSOS POLÍTICOS?

Mas nesse país há milhares de cidadãos patriotas que já trabalham para outrem, sem cumprir promessas de campanha, com recursos próprios ou patrocínios limitadíssimos, sem ambição de poder, ou de ser servido, e apenas porque querem servir. Excluamos da conta os caridosos de todas as religiões, ou de nenhuma, os milionários famosos, intelectualizados ou não, que querem passar pelo buraco da agulha, e os artistas anônimos, para cujos camelos os guardas abrem os portões dos hospitais, asilos, orfanatos, repletos de tolerantes extremos de consciência social, impedidos pela natureza de votar em algum impeachment...

E ainda sobrarão muitos que, ao invés de clamar pela intervenção constitucional, preferem intervir sem truques, interpretações e julgamentos, legítima e diretamente, na vida dura de quem espera por soluções sem poder legislar em causa própria, ou simplesmente trabalhar e assim se esquecer.

Ora, é muito óbvio que essas pessoas são espontâneas, trabalham de fato no que se propõem e têm qualificação técnica para fazer, que até atendem ao perfil exigido para o político de brasileiro alfabetizado, e que afinal... Por que raios de motivos precisamos desses políticos, que vemos aparecer na mídia do caos que eles próprios construíram desconstruindo, mas cujos rabos nunca aparecem para servirem de prova, embora apareçam seus pretensos remédios. Difícil imaginar que eles conheçam a fórmula de algum deles. A política tem sido transformada em um joguinho de rótulos, em que o verdadeiro conteúdo é muito duvidoso, no mínimo ambíguo.

É uma arrogância mentirosa pretender e proclamar, que sem uma remuneração que não se teria no mercado de trabalho convencional, e mais uma fiada de vantagens, ninguém se dedicaria a alguma função de caráter público e útil. Por que precisamos desses nossos políticos?

A resposta é: Não precisamos... Mas a sobrevivência do sistema de conceitos depende disso. É vital ter a quem impedir, ou não, enquanto a boiada passa noutro ponto do rio. O sistema quer ser o remédio de si próprio. Trocar uma pessoa ou um rótulo apenas, não assegura nenhuma mudança importante. As pessoas que, eventualmente, fazem algo por alguém são muito mais eficientes, anonimamente porque não têm que se reeleger.


PLANEJAMENTO, GARANTIA DE LEGITIMIDADE DO ESTADO


Até a revolução industrial, as economias eram familiares e de subsistência. Vieram as explosões da industrialização, da mão de obra, das populações e do consumo, e dentre tantas outras coisas veio a concorrência. Então simplesmente contabilizar o que uma empresa havia realizado, mantendo o olhar para dentro, passou a não ser mais suficiente, do ponto de vista do gerenciamento. Era preciso fazer mais que retratar para tornar-se competitivo. Hoje, nenhuma empresa tem chance de competir sem planejamento, e as de maior amplitude não podem prescindir da última versão: o planejamento estratégico, aquele que tem também o olhar para fora, para o que potencialmente venha interferir dentro.

Para as coisas mais importantes, a técnica de planejar escapuliu do âmbito das necessidades de concorrência. Tanto que agora temos que "gerenciar" as compras do mercado e os juros do cartão, entender o que significa as unidades kw/h (quilowats por hora) na conta de energia elétrica, e Gbytes (gigabaites) na de internet, além de muito mais. Tudo porque são retratações, e portanto constituem fatos, coisas que não podemos mais modificar.

Sim, claro, fazer planejamento não muda esse caráter das nossas contas, mas viabiliza o tratamento de tudo, consolidado em uma visão panorâmica, de contexto, pela qual será fácil avaliar cada particular, e como se encaixa. E assim as próximas retratações terão os seus fatores identificados, bem como as responsabilidades, e será possível ter uma perspectiva técnica, porque se estruturou a diversidade de uma forma compreensível!

Isso faz uma falta tão grande, no nosso quintal, na escola das crianças e noutras coisas comezinhas, e sobretudo seria tão vital no exercício do poder público, atribuiria tanta consistência à representatividade do voto, enfim... É literalmente impossível conhecer a demanda de necessidade pública, de centenas de milhões de contribuintes compulsórios, nação de um país de dimensões e complexidades continentais, na ausência de um planejamento tecnicamente elaborado, e não politicamente.

Não é honesto que se prometa resolver o que quer que seja isoladamente. Todos votam e todos pagam, muito generosamente e antecipadamente, todas as soluções já foram adiquiridas. Mas não foram entregues e não se oferecem perspectivas de entrega. E pior, mentem os que alegam ser assim mesmo. Enganam os que afirmam não haver dinheiro, que falta água ou outro recurso natural.

Falta o indizível pelo gestor, a vergonha na sua cara, mas sobra tudo que devia estar contemplado em um planejamento, com objetivos, critérios e encadeamento de ações de governo, e tudo que permitiria perspectivas avaliáveis. Ainda temos um dos maiores PIB do mundo, e uma das maiores arrecadações de impostos. Ainda temos a maior bacia hidrográfica e nossas florestas são pulmão do mundo. Temos milhares de quilômetros de litoral, com duzentas milhas, onde se reproduzem, sem esforço nosso e qualquer custo, proteínas que alimentariam toda a humanidade, e a míseros sete mil metros de profundidade (considerando seu potencial), temos mais mananciais de energia, que parecem inesgotáveis.

Tecnicamente falando, e jamais politicamente: falta planejamento. Agora, politicamente falando: faltam votos nulos que asseverem democraticamente, o erro de subestimar a inteligência do patriotismo. Muito menos do que 51% deles, já obrigaria às mudanças do sistema de falsos conceitos.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

FALTA LUCIDEZ NESTE PAÍS


Uma grande quantidade de pessoas inconsequentes está criando um coletivo peçonhento e monstruoso, incapaz de fazer o país avançar como tentam convencer a todos os demais, por ingenuidade ou carência de caráter, mais para a segunda hipótese, por influência do caráter mais generalizado da nossa política.

Apesar de tantos, começo a me sentir carente de amigos lúcidos. Mesmo sendo virtuais apenas, gosto dos amigos que tenho, são importantes para a minha identidade. Mas tudo aponta afinal para mim mesmo: podia ter sido menos generoso e mais criterioso em aceitar novos amigos, inclusive os que nem pedi e nem pediram amizade. Tipo uma notificação assim: "Fulano, ou fulana, aceitou a sua amizade". Ora, até o caráter do Face parece duvidoso.

Preciso então pedir a meus amigos que tentem ser menos vulneráveis à manipulação de coletivos, especialmente dos que beneficiam grupos, com prejuízo do bem comum e do papel social irrecusável que eles têm, tanto quanto as instituições formais. Antes de qualquer atitude, é necessário se perguntar "quem ganha o que". Porque quem cria um coletivo o faz sempre com um objetivo visível, mas isso não inviabiliza outros que não sejam tão óbvios. Por isso me exponho nesta postagem.

Políticos não se perguntam quando se corrigirá o caráter da política, principal razão deste caos. Mídias não se perguntam com que caráter devem entrar em milhões de lares, ou induzir reações de instituições e pessoas públicas com responsabilidades equivalentes a duzentos milhões de brasileiros, a maioria pagando caro pela pouca dignidade que o Estado lhe oferece. Ninguém perece se perguntar quem é esse tal de "governo", na prática, e à luz da partilha de prerrogativas, estabelecida por essa nossa constituição pseudo-parlamentarista.

Não perdoem o PT, é justo. Eu também não o perdôo. Mas indultar toda a política restante do sofrimento que está causando, em essência, é exatamente o mesmo que representou anistiar os militares torturadores. Já nos esquecemos? Vejo civis defendendo uma intervenção militar como alternativa para o impedimento da presidenta recentemente eleita, sua chefe!

"Pôxa, falha nossa... Escrevemos que a intervenção poderia ser solicitada por qualquer dos poderes. Mas não suprimimos a parte que diz que ela é a chefe das forças armadas... É, aquele velho tem razão: criamos um piseudo-parlamentarismo"...

domingo, 29 de novembro de 2015

O SENSO DE DIREITO À BRASILEIRA

Absurdamente estranho é o senso de direito, maquiado pela ambição de poder, que permeia e justifica a nossa política desonesta, sediada nas casas legislativas (onde as leis são feitas e regulamentadas) porém hoje encovilhada em todas as instâncias do Estado. É um contra-senso público. A ambição usurpa o espaço do interesse público, e transforma a gestão do bem comum em enfrentamentos pessoais, por vezes dissimulando a covardia do terrorismo e do crime organizado. O que essa política faz com a representatividade, é traição, por ação e omissão.

Mais revoltante não perceber a chantagem óbvia por trás das palavras, e dos olhares sórdidos, de quando dizem tipo assim "se eu cair arrasto muitos comigo". Pior, muito mais aviltante, é não haver uma reação imediata das próprias casas, porque isso demonstra que não nos falta apenas a lealdade de quem o diz (ação), mas também falta a perspectiva da correção (omissão)!

Esse bordão assegura o caráter criminoso de quem o usa. E não poderia ser suposto como blefe, porque não se trata de um carteado de pistoleiros americanos, não estão num "saloon", e porque nem todos os apaches estão mortos ainda. Foram alfabetizar os tupiniquins para rechear de argumentos a propaganda, agora está a cada dia mais difícil enganá-los com pentinhos e espelhinhos.

Os brasileiros que não se dependuram nas tetas do erro, não podem aceitar que autoridades legislativas de primeiro escalão, sob investigação, sugiram conhecer fatos e documentos (provas) passíveis de condenação, que eles tenham o direito de esconder em alguma gaveta, para usar oportunamente. Esse comportamento é criminoso e não apenas anti-ético. Querem parecer poderosos aos olhos do público? Querem desafiar a justiça? Na verdade querem também intimidar e turvar a razão dos que querem corrigir, o que os tais investigados não corrigiram enquanto tiveram chance.

Atitudes desse tipo, mais que propinas, estão levando todo o sistema de conceitos à mais imoral nudez, porque nestes casos, as provas materiais necessárias ao entendimento e à condenação já são suas próprias e inequívocas declarações. O que mais é necessário? Se houverem outros a serem condenados, isso não deve absolver delatores criminosos, como se faz crer hoje neste país que seja compatível com o senso de direito, não com o senso de direito daqueles que escolhem viver honestamente.

Em um país onde advogados têm o direito de turvar e retardar a justiça, onde juízes são absolvidos, por fisiologismo, de erros que condenam qualquer cidadão, e ainda se penaliza o louvável rigor do agente público que registrou o erro, no cumprimento do seu papel... O que podemos esperar a nosso favor desse sistema falacioso?

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

EINSTEIN PREVIU IDIOTICE POUCA

Como Einstein previu, a tecnologia está criando uma geração de idiotas. Mas no bojo dessa previsão surpreendente, dita por alguém como ele, pensador do século e depositário do pensamento democrático do pós-guerra, há muito mais à disposição da nossa preguiçosa reflexão. Alguém se dispõe a me acompanhar? Pra começar não podemos deixar passar um aparente conflito: a tecnologia se baseia no conhecimento científico, especialidade de Einstein. Então parece claro que ele separava a ciência da exploração tecnológica, comercial ou não.

Embora o olhar crítico sobre o uso da tecnologia tenha incontáveis focos, talvez nenhum seja hoje tão importante quanto o que se deve ter sobre a tecnologia de informação, menos pela complexidade de pesquisa e desenvolvimento, e muito mais pelo imenso potencial do seu uso, para bem e para mal, ao que se associe a lerdeza com que se cria condicionamento jurídico e se estabelecem políticas públicas de controle e proteção.

Não se trata apenas de não sabermos mais calcular raiz quadrada à mão. O condicionamento de uso vai muito além, e não tem faixa etária exclusiva, nem estrato social. A principal razão é óbvia e está acima: não existem mecanismos de controle. Contudo, isso não invalida a previsão de Einstein, lógica de cientista, isenta de outros interesses. Claro que o próprio usuário alimenta o erro, mas ele paga generosas remunerações para aqueles que se propuseram a zelar pelo interesse público e não o fazem. Esses têm a obrigação e não o direito de ter a atitude correta.

Assim como ocorre em todos os campos de aplicação da tecnologia, estamos assistindo a um processo social de escravização sem precedentes, dissimulado sob o poder de sedução de produtos e serviços, sob o direito a pequenas ambições, sob o conceito fundamental capitalista que assegura falsamente que as melhores pessoas são as que mais podem comprar, no caso tecnologia moderna. Faríamos, enfim, uma lista interminável de falsidades que mantém esse processo auto-destrutivo.

No extremo da linha, temos o que há de mais contemporâneo: coletivos que têm pés, mãos e línguas desrespeitosas, mas são incapazes de pensar, cada indivíduo que os compõe por si próprios, estão institucionalizando a "idiotice", porque a frequência lhe atribuirá caráter "normal" e depois legítimo. É a banalização da estupidez, da inconsequência, da representatividade, da deslealdade e afinal do crime.

Se eu estiver equivocado, vou gostar de saber a razão de ver políticos violando leis para realizar objetivos apenas seus, comandantes de órgãos públicos traindo o necessário princípio de autoridade (do que não abrem mão em suas competências), caminhoneiros acham que têm o direito de fazer uma chantagem não institucionalizada, e outra lista imensa caberia aqui. Até mesmo incluindo produtos do processo, por exemplo: um garoto, que já pode botar votos nas urnas e filhos nos úteros, resolve que tem o direito idiota de brincar de assaltante no trânsito, o meio atualmente mais inseguro do nosso cotidiano.

Se eu não fosse lúcido, talvez terminasse escrevendo aqui: quem concorda compartilha. E haveria quem o fizesse sem ler.
 
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domingo, 15 de novembro de 2015

DOCE ENGANO... NÃO VALE!

Uma sucessão de fatos terríveis está oculta pelo nosso modelo de ver as coisas. Estamos obstinados a trocar nomes de pessoas, como se o problema fosse individual. Estamos nos baseando em opiniões e estão faltando conceitos e procedimentos responsáveis. Estamos aceitando justificativas para o injustificável, tolerando pretensos direitos danosos ao bem comum.

Se apressarmos a velocidade de projeção desse nosso filminho de falso super-herói, veríamos que estamos nos destruindo. Uns por ações inconsequentes e outros por uma exagerada tolerância. Faltam água, gestão, sobram lama e política, mas tudo é declarado na forma da lei. Bem, em CPI e premiando delações quase tudo.

O que será ainda necessário de ser feito (e não de acontecer), para que (os que sobrevivam) assumam a atitude certa por meios corretos? Por que não temos e não exigimos um planejamento de ações de governo de médio/longo prazo, pelo qual possamos saber que significado realmente tem o que é feito e o que acontece?

Pelo mundo afora a intolerância acéfala de alguns está matando muitos outros, como num abatedouro. Mas por aqui, a tolerância inútil está matando literalmente tudo que vive, em ordem de grandeza muito maior, e ainda mais irracional!

Queremos estar em um dos lados da cadeia, mas somos tolerantes com os criminosos que estão em ambos os lados, com ou sem gravata. Nesse passo, talvez não haja mais lados nem cadeias nem rios nem minas nem pré-sal nem cemitérios... O que valerá, por exemplo, a maior empresa de capital nacional, depois da maior empresa brasileira?