O Que Movimenta o Nosso Mundo Não é o Conhecimento, Mas o que Pensamos Conhecer.

sábado, 5 de dezembro de 2015


(Foto: folhams.com.br)


LEIAM MAURO SANTAYANA


De mãos dadas às do Mauro Santayana (veja sua posição em O Globo de hoje, link abaixo), poderíamos acrescentar reflexões que não se encontram com facilidade, em relação ao esforço inconsequente de desalojar a presidente, com base em acusações apontadas quase sempre para o partido. Ou seja, os partidos se enfrentam, e pretendem oferecer como solução derrubar a presidente eleita. Mas depois, a briga desleal dos partidos continuará acumulando prejuízos para a sociedade, enquanto alguém terá que se alojar no centro do alvo, no lugar da mosca, e será também obrigado a "pedalar", porque matemática é uma ciência exata, e porque a ambição de poder do legislativo não deixará espaço para ninguém individualmente.

Há um aspecto, ao que parece, que não se cogita. Apesar da euforia da tribo mais impulsiva dos desafetos do petismo, ainda não ganharam coisa nenhuma. E talvez caminhemos para uma perspectiva inversa. É sim possível, e não apenas por matemática, que façamos todo o percurso, meses de procedimentos roteirizados, e ao final a presidenta seja absolvida das acusações que compuserem contra ela, e como compuserem. Vejam, trata-se de um julgamento. O processo não poderá contemplar todas as pretensões de acusação. O que significa: o impeachment não solucionará os nossos problemas, não assegurará perspectivas melhores, e não anistiará os acusadores no futuro. Absolvendo-se a presidente, ela estará blindada por muito tempo, e agradecerá por isso aos seus opositores, que deverão estar em franco processo de autoflagelação expiatória.

Ainda mais difícil de encontrar nos dizeres de tantos especialistas, estrategistas e tal, é algo óbvio que pode depois se revelar um erro de todos: deslocando-se a situação do poder, ela e a sua base aliada estarão sendo eximidas de cumprir seu compromisso, e reorganizar o caos que ajudaram a criar. O enorme e desgastante trabalho de curar as feridas caberá aos acusadores. Então cabe aqui perguntar à reflexão de todos: do ponto de vista da sociedade, qual a vantagem de fazer isso, e quais as garantias efetivas de que o próximo boneco não cairá também do palco, antes de cumprir sua parte? Não há vantagem nem garantia para a sociedade. Isso tudo só tem interesse efetivo para a política, que poderia usar outra estratégia para a correção do rumo. Ou nem mesmo seria bom para a oposição, devido ao adiantado estado de decomposição. Desculpe o trocadilho.

Outro aspecto: o Congresso Nacional ficará por conta disso até o final do processo, e nada mais será capaz de fazer das tantas coisas importantes que esperam. Ou seja, as pessoas que estejam ameaçadas por essa paralisia legislativa, estão investindo pesado no processo de impedimento para ganhar tempo, e outras coisas. E ainda não se cogita em protelar o recesso parlamentar para depois! No caso, retardar a solução em dois meses é muito, equivale a um terço do tempo previsto pelo roteiro para o esgotamento do processo.

Mais um aspecto pouco ou nada comentado: durante o processo, não existirá a figura da presidente no comando, ela estará afastada dessa função. Em seu lugar deverá estar o vice. Mas talvez apenas até a consumação, e provisoriamente a sua figura não será comparável. E então, o que outro partido poderia conseguir em tão pouco tempo, do que não se conseguiria em um mandato inteiro? Quem se proporia a mais essa mentira, e ao seu desgaste potencial?

A abordagem de Santayana é correta e ampla, coisa difícil de se ver a julgar pelas perspectivas que os políticos em geral sabem nos oferecer.

O Impeachment, a Antipolítica e a Judiciação do Estado (Mauro Santayana, 5/12/2015)

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