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domingo, 13 de dezembro de 2015


Foto: festivalmarginal.com.br


BOI DE PIRANHA POLÍTICO


Brasileiros que moram em outros países pelo mundo afora, e principalmente nos Estados Unidos, que sentem saudades do seu quintal, da escada do prédio em que moraram ou de outro lugar da sua infância, da sua gente, do seu jeito e da sua comida, e que continuam crescendo onde estiverem, ao que as estatísticas indicam, constituem o público leitor majoritário dos artigos desta página. Não seria sem motivos, caso se preocupassem a ponto de ter vontatde de voltar, afinal deixaram parentes queridos e têm a pretensão de voltar mesmo. Minhas convicções não são absolutas em relação a outras e creio firmemente que as soluções para todos só podem vir de todos, e todos inclui os que apenas estão longe, mas talvez aceitem o convite à reflexão. Neste artigo me dirijo a elas mais diretamente.

"Don't believe everything they think"... Lincon me perdoe, não me considero uma ameaça para ninguém. Não sou um problema para nenhum Estado e, embora algumas pessoas o imaginem, não tenho pretensão política nenhuma. Não acredito nos modelos de política que são praticados, não como caminho para soluções econômicas e sociais, simplesmente porque não encontro evidências de que a política realmente pretenda isso. Na melhor das hipóteses, apenas os políticos mais lúcidos (a minoria) deste nosso país, pretendem usar maquiavélicas soluções para solucionar o próprio ego. Ou seja, precisam delas como nós, mas não exatamente para nós. Se o pretendessem, certamente teriam outro caráter e outro comportamento médios.

Não dou meu voto para ninguém há muito tempo, e sou convicto de que esse é o voto mais poderoso, ao contrário do que se propaga com o dinheiro dos tributos. E deixei de dar meus votos porque já na época me convenci de que não importava escolher um nome ou um número. Na prática, todos votamos pela manutenção de um sistema de conceitos, não de nomes ou números, e ninguém é eleito para modificar isso. Vou além, com todo respeito a outros eleitores, costumo dizer que é o único voto realmente digno da indignação "turbulenta em que tantos se jogam". E por isso me sinto solidário com quem talvez fique pensando se valeria a pena votar, estando em outro país, e precisando das soluções para a situação local, em que esteja mais efetivamente inserido, sem poder votar para o contexto que pode influenciar diretamente seus objetivos pessoais.

Como na letra de Chico Buarque, dirigida ao falecido sambista Ciro Monteiro, "a coisa aqui está preta". Mas preciso me dirigir a gente viva, de carne e osso, mas em espírito preocupada. Isso é natural na medida em que se violaram todos os limites racionais nas instituições, e elas são pessoas jurídicas que têm o poder e a responsabilidade de promover mudanças, mas também de conter a própria degradação. Parte da população vai para a rua e se manifesta pacificamente, mas dentro do Congresso Nacional um grupo de desqualificados faz com que pareçam estar em uma tendinha obscura, discutindo erros de arbitragem no futebol! Talvez até sejam representativos da maioria, mas não dá pra acreditar que se lembrem de que têm responsabilidades com o governo do país, as necessidades de toda a nação, com a imagem dela no mundo, e não apenas com as mesquinhices dos seus quintais familiares. O que é ainda pior: a casa legislativa acha que basta um puxão de orelhas... Significa que ela está no mesmo nível.

E isso nos leva à síntese das razões do nosso constrangimento, desesperança e indignação. Saibam os que estão distantes: não temos as soluções, pelas quais pagamos uma das maiores arrecadações de impostos do mundo, mas a "coisa" é muito mais "preta", não temos nenhuma perspectiva ou indício de que esse quadro esteja sendo tratado para melhorar. O que temos efetivamente é uma espécie de boi de piranha, porque não criaram a figura jurídica necessária para qualificar e enquadrar um partido político, que devia ser impedido de exercer suas funções. Então querem impedir a presidente, para que outro pau mandado ocupe o seu lugar, e o sistema se perpetue.

Nossa Constituição (1988), bem conhecida de figurões que ainda não têm o voto do sambista Ciro Monteiro, criou uma concepção da figura jurídica a que atribuimos o termo em idioma estranho "impeachment", assim como uma outra, a "intervenção". Esta figura mereceu o idioma da terra, mas ambas foram enganosamente importadas. Ambas tiveram o perfil de caracterização de contexto definido, procedimentos também definidos, mas nada disso bastou. E não bastou porque não há o enquadramento necessário. Por isso, e para prevalecer seus objetivos "estrangeiros", do ponto de vista das necessidades da sociedade como um todo, tentam envolver o judiciário na tramóia do legislativo. Mas o Supremo é instância composta de pessoas intelectualizadas e lúcidas! E muito mais difíceis de enganar com artimanhas de quadrilha.

Não acionam o Supremo para tantas coisas que lhe dariam a oportunidade de colocar o poder legislativo no seu devido lugar, até por simples senso jurídico deste. Mas exigem que o poder jurídico se alinhe à estratégia política de um golpe equivocado. Os ministros do Supremo sabem que o golpe existe, mas é um outro bem diferente deste, sobre o qual são mantidos propositalmente os holofotes da mídia. O país pára, todos ficam esperando, muita gente lucra com isso, e enquanto rola a questão pessoal entre duas autoridades, preferíamos estar também, ironica e desgraçadamente, do lado de fora, para não ter que conviver comm tanta canalhice. Da maneira que vem sendo feita a "coisa", a boiada toda poderá passar impunemente por outro ponto de travessia, sem se exporem às piranhas que infestam o próprio Congresso.

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