O Que Movimenta o Nosso Mundo Não é o Conhecimento, Mas o que Pensamos Conhecer.

domingo, 13 de dezembro de 2015



RÓTULOS


Por vezes precisamos dar uma desacelerada no trem das nossas ideias, e dos comportamentos que deveriam ser justificados por elas. Digo assim porque hoje nem sempre isso acontece. A tecnologia das mídias multiplicou, feliz e infelizmente, as capacidades de formação de opinião e de coletivos. E digo desacelerar, porque não é fácil brecar nenhum trem, mas será mais seguro se estivermos a uma velocidade menos insensata, quando percebermos que podemos e queremos melhorar. Isso diz respeito a muitas questões na nossa vida com a mesma propriedade.

Entretanto, o que me levou a refletir sobre esse artigo foi encontrar uma considerável quantidade de amigos usando designações de ideologias, e assim colando rótulos sobre conteúdos sem que exista uma relação consistente entre ambos. E se em meu pequeno grupo acontece, a coisa deve ser bem mais grave. Pode parecer que faço um julgamento do nível de conhecimento dos meus amigos sobre ideologias, mas não é isso exatamente o que me preocupa. As ideologias e os conhecimentos particulares dos meus amigos, não são bons nem maus necessariamente. Contudo algum julgamento pode ser inevitável, de amigo ou não, dependendo do que se faz com o conhecimento que julgamos ter, e da reticente manipulação de ideias com que temos de lidar, na modernidade em que vivemos.

Precisamos ter mais cuidado com os rótulos, e não apenas os de produtos em prateleiras de supermercados, porque eles não são destinados ao consumo, mas ao estímulo do consumo. O seu pressuposto básico, a identificação do conteúdo, justificou diversas leis na tentativa de inibir o uso incorreto e proteger o consumidor. No nosso capitalismo, a internet é o mais absurdamente grande supermercado de ideias, embora tudo faça parecer que seja de imagens e em promoção, e os rótulos são isso. Ou seja, pelo que deveria identificar o conteúdo, se pode explorar o condicionamento da confiança para subtrair ou dissimular ideias, mesmo simultaneamente.

Assim, parece que devemos pensar que a manifestação contra o projeto de reorganização de escolas do governo paulista, era um protesto de garotos bem comportados, que compreendem o mérito das necessidades e responsabilidades do poder público, as tramas políticas que se insinuam nos coletivos, e que o estado de direito, que lhes garante direitos, também exige o respeito a todos os direitos. Esse caso é digno de destaque, porque podemos fazer uma lei que conceda direitos aos adolescentes organizados (eles são o futuro), ao crime organizado, até à corrupção organizada do poder público... Mas é mentiroso o pressuposto de que essa lei ensinará tais pessoas a fazer o uso correto dos seus direitos. Aplicar estratégias públicas parece bem mais difícil do que fazer leis que não intimidam ninguém.

Também assim, devemos pensar que iluminar o Palácio do Governo de vermelho seja afrontoso. Ora, a maioria da nação elegeu por quatro vezes consecutivas presidentes de um partido cuja cor é vermelha! Infelizmente para todos, fizeram mal uso das suas prerrogativas e devem pagar seus pecados, mas ainda mais infelizmente, para todos, em momento nenhum tiveram uma oposição congruente com o poder, e honesta com a sociedade que elegeu a todos. E não os elegeu para que se destruíssem mutuamente, como é o que fazem na prática política, porque a política leva a maior parte dos tributos arrecadados, direta ou indiretamente, como despesa, como custo, como falso investimento, como terceirizações caras e falhas, como desvios difíceis de se provar, e tudo sob bandeiras e ideologias de todas as cores. É fato que a política custa caríssimo. Alguém sabe os números atuais da ineficiência no Brasil? Alguém conhece algum planejamento de ação para os próximos vinte anos do Brasil? O Brasil é um imenso arco-íris social! E com mais de duzentos milhões de potes de ouro!

O socialismo é um modelo teórico de organização das sociedades, por condicionamento político, econômico e social que, em síntese, se opõe à exploração capitalista de muitos por muito poucos. Sua base surgiu na Grécia antiga, mas foi resgatada e adaptada no final do século XVIII desta nossa era cristã, por tentativa de uma parte da intelectualidade européia, sensível à luta dos trabalhadores para conter a ambição da industrialização desenfreada e assoladora, que caracterizou aquela época. Extinguia-se uma forma de trabalho escravo, de negros para brancos, mas para estabelecer outra ainda maior, de todos para alguns, sob o rótulo de trabalho honesto! Na essência, qual a diferença? Mudaram os rótulos, mas o espírito de dominação e exploração é o mesmo! E justificava plenamente as ideias de redistribuição da riqueza e descentralização do poder, por efetiva representatividade da nação, duas filhas da ideologia socialista. Uma foi vendida para os bancos mundiais, e a outra foi prostituída aqui mesmo, ainda adolescente e sem compreender bem o que acontecia. Não pode haver dúvida, basta perguntar: quem ganhou com isso?

O comunismo... Sim, aqui fazem pior. A ideologia foi usada como rótulo por governos ambiciosos e violentos, que provocaram um grande conflito e acabaram perdendo a guerra. Mas como não há balas que furem ideias, para esterilizar as mentes os americanos do norte demonizaram o rótulo, como a igreja fez com as bruxas, o nazismo fez com judeus, como voltou a ser feito depois em outros países, e como ainda hoje ém feito até sem peles branquinhas de cordeiro. E se determinadas ideias não morrem, resistem por milênios à genética que tenta lhes exterminar, é porque nem tudo nelas é condenável e a parte verdadeira recomeça a fazer sentido de tempos em tempos. O comunismo é grave porquanto é radical. É considerado a última etapa, o ápice do desenvolvimento das concepções socialistas, em decorrência do enfrentamento ideológico e institucional também radical que receberam. Levaram a extremos conceitos tais como o do paternalismo do estado, da propriedade pública e do controle do poder do capital pelo estado. Esses conceitos extremos e inviáveis despertaram a ira do capital.

A política não faz hoje nada de novo nesse país. Sempre que se tira o foco do bem comum para privilegiar os particulares (ou de pequenos grupos), a consequência é uma escalada competitiva e destrutiva pelo poder, genitora de impérios, de posições cada vez mais radicais, comportamentos que mais violentam direitos, respaldados por leis degeneradas que são feitas para "legalizar" escolhas erradas, enquanto mecanismos de controle simplesmente nao são feitos. Tenta-se justificar os erros que se proliferam em cadeia, uns com outros, numa guerra particular que ignora os seus efeitos destruidores e a própria sociedade. Ora, não é o conceito de "ser comum" que está errado, nem a cor da iluminação que enfeita o Palácio do Governo, em Brasília, mas o que se faz para impor o conceito de ser privilegiado sem limites, e por objetivos, critérios e meios, que não contemplam a naturalidade de ser incomum! A não ser pelo egoísmo exacerbado, inconsequente, o que não deixa de ser incomum, e portanto essencialmente anti-comunista.

A representatividade política somente dará frutos doces para todos, quando os seus interesses particulares não competirem com o interesse público, quando a ambição for o bem comum, quando o exercício da gestão da coisa pública não for uma profissão excludente, mas for técnica em vez de política. Critérios políticos têm por objetivo resultados políticos, que desprezam a relação entre o rótulo e o conteúdo; critérios técnicos produzem resultados técnicos, que não excluem rótulos, nem ideologias, nem representatividade, e nem as ciências não exatas, nas quais a política se sente tão confortável. Em um governo técnico haverá mais exatidão, responsabilidade, perspectivas positivas confiáveis... Menos incerteza da herança que deixaremos, menos vagas nos presídios (por mais tempo) e menos rótulos enganosos.

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