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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015



GENÉRICO POLÍTICO


Por vezes é curioso e estranho o modelo mal conduzido de fazer política de oposição, neste nosso Brasil. Tenho nestas ocasiões uma sensação de que nada, absolutamente nada, se salvará deste modelo quando enfim tivermos outro. Tenho escrito repetidamente, na tentativa de oferecer reflexão, que não é possível gerir um país com as nossas dimensões e complexidades, sem que tenhamos um planejamento técnico de grande alcance, pelo qual cada coisa possa ser compreendida como peça de um todo, de onde se deduza com clareza os objetivos, critérios e meios, a noção do que há para ser feito e a apropriação de responsabilidades específicas pelo que deixou de ser feito, ou foi mal feito. Mas do modelo de oposição, se deduz mais: os acusadores também não tem ferramenta semelhante, tanto que sequer conseguem demonstrar alguma estratégia conjunta, salvo na pontualidade efêmera de cada momento. O conceito é cada um por si, e ninguém pelo país.

Eu quis imaginar que a imensa escandalosidade da corrupção na Petrobrás seria muito melhor explorada estrategicamente pela oposição. E que nesse caminho se estimulasse a juventude contra a política de situação, por seu poder de influenciar a maior e mais estratégica empresa deste país. Mas a oposição preferiu ou não foi capaz de fazer isso. Pior, fez muito pior, curiosa e estranhamente, o governo de São Paulo, reduto de oposição, conseguiu a proeza de levantar os estudantes, só que contra si próprio! Ora, se não freassem esse trem, em breve teríamos uma reedição de caras pintadas, porém dessa vez com as cores paulistas. e num rasgo de oportunismo da política de situação, um pedido de impeachment do governador.

Em outra evidência da miopia, natural também da ausência de um plano comum e da inconsequente ambição do poder que projetam na figura de um cacique, em vez da estratégia de desarticular a relação entre a presidência e a base de sustentação política (o PT sozinho não pode tanto), escolheram desastradamente apontar todas as balas para a pessoa da presidente, eleita pelo povo, embora da última vez por uma pequena margem. Salvo por uma injunção atípica, com força de contexto mas justificável, seria mais fácil para um chefe de Estado interferir diretamente em uma investigação como a lavajato, presidida por um representante do poder judiciário, com respaldo constitucional para agir com independência, do que interferir diretamente em contratações, mesmo as da Petrobrás. Porque um presidente precisa presidir, ou até se diria aqui governar, mas para fazer isso não poderia "presidir" milhares de reuniões contratuais, pelo país afora. Somente essa impossibilidade já torna bastante inconsistente a culpabilidade pessoal da futura investigada, sem considerar o fato de que o partido e os marqueteiros são os gestores das campanhas. E nem poderia ser diferente.

As acusações que compuseram para o trato pessoal do seu objetivo, apontam realmente para má gestão da coisa pública. Entretanto, o mau resultado global do governo não pode ser, a não ser levianamente, atribuído unicamente à pessoa da chefe de Estado. Qualquer cidadão que se disponha a ler a nossa Constituição, verá que ela partilha a função de governo, entre o executivo e o legislativo. E por isso é sim, leviano, tratar o executivo de governo, para não atirar no próprio pé. Até mesmo o judiciário espera pelo legislativo de mãos atadas, para diversos assuntos. E os eleitos para legislar não têm tempo, e nem desejam legislar. No Brasil, o legislador quer governar. E essa é a principal razão desse caos. Antes, para a nação, partilhassem sucessos e fracassos com o executivo e o judiciário. É esse o conceito original, que não interessa aos objetivos da política do legislativo.

E na falta da congruência dos poderes, o remédio que nos oferecem é um genérico pouco eficaz. Um simples princípio ativo, compreensível por mentes simples, de preço dito cômodo, apresentado como panacéia para todos os males: impeachment da presidente!... Nosso congresso legisla com mentiras amarradas à cintura. Mas que são potencialmente explosivas para todos. Alguém dentre os patriotas congressistas percebe que o PT continuará nas casas legislativas, nos meios de comunicação e nas ruas, que seus integrantes e simpatizantes são cidadãos brasileiros com plenos direitos e que também querem punição para criminosos? Não são menos do que estes que aparecem nas manifestações, nem os que recebem um formulário de pesquisa de opinião. Tanto que elegeram petistas para a presidência em nada menos do que quatro eleições. E eleições sucessivas, ou seja, passando por cima do desgaste cumulativo causado pelas oposições a cada mandato.

Será que alguém dentre os patriotas exaltados reflete que o impeachment eximirá a presidente e o seu partido, da responsabilidade de contribuir para a terapia intensiva que será necessária ao país segundo o senso clínicon emergencial de outro partido?...

Mentem para enganar, os que afirmam que o impeachment impedirá o petismo, e não apenas a presidente. A política dissimulada desperta um tal de gigante, mas não lhe oferece mais do que uma parafernália de bordões a serem escritos e repetidos. Plano nenhum, coerência nenhuma, congruência nenhuma, responsabilidade nenhuma, perspectiva de mudança efetiva, nenhuma.

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