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domingo, 20 de dezembro de 2015


Foto: www1.folha.uol.com.br


O PT NÃO ERRA SOZINHO


Tenho exposto minhas convicções para que meus amigos reflitam. "Talvez elas estejam certas em algumas coisas, e isso sirva como contribuição", digo a mim mesmo sem outras pretensões. Mas há quem as compartilhe involuntariamente, do alto das suas especializações. Quando disse que "Temer cometeu tripla traição", referindo-se ao fato de abandonar o barco da candidatura como vice da presidente, o renomado cientista político André Singer errou, apesar de tão elogiável colunista. Não deve ser tão bom em matemática, porque foram sete as traições e não três, até parece coisa de final dos tempos. Além de trair a presidente (não é o mesmo que trair o PT), trair a si mesmo, e trair a vocação do PMDB, Temer traiu mais:

a Constituição que estabelece como deve funcionar o regime presidencialista, reafirmado como preferência por plebiscito, e já o fazia antes, tinha até um plano de governo na manga;

Temer traiu a metade dos políticos do seu próprio partido que defendia o conceito constitucional, e se opunha ao impeachment sem crimes graves da presidente (não existe impeachment para partido político de situação);

Temer traiu a sociedade e a suas esperanças no que venha depois do impeachment, porque votamos em muitos nomes e partidos, mas sob o pressuposto de que haja harmonia, honestidade e lealdade em favor do bem comum, valores que estão em extinção na política e nenhuma perspectiva melhor que o Estado ofereça;

e provavelmente tenha traído, por paradoxal que pareça, até o seu amigo Cunha. Porque agora todos os políticos, de todos os partidos, que ainda tiverem um resto de vergonha na cara, não vão sustentar a absolvição do presidente da Câmara. Como fazer isso em favor de um vice covarde e traidor? Ele é o vice por força da lei e das instituições e não por concepção dele, deve celebrar os sucessos e reconhecer os fracassos do Estado, e não do PT. As instituições de direito público pertencem ao Brasil e à nação, que paga por tudo com impostos, trabalho honesto e esperança pacífica. O inverso é uma mentira política criminosa.

Esse impeachment é um embuste político que vem sendo tramado desde a primeira vitória do Lula, por inconformados parlamentaristas, inclusive alguns ex-constituintes, que se colocam acima da vontade da sociedade para atingir os objetivos pessoais da sua ambição. E se aproveitaram deslealmente (as regras eram claras) do fato do escrutínio ter sido definido por uma margem pequena, em comparação com os antecedentes. Mas isso era a regra escrita por eles, e não pelo petismo que eles querem exterminar. Como não podem, atingem a presidente eleita, e ainda induzem milhões de pessoas a manter um tratamento desrespeitoso e antidemocrático à pessoa, ao ser humano Dilma. Nossa democracia é uma farsa, nossa política é criminosa, e a única maneira da presidente ter ficado imune por todo esse tempo, seria assumir ela própria um golpe, e estabelecer um regime autoritário. Porque não tínhamos liberdades e muitos cidadãos civis idealistas foram torturados e mortos em nome delas. E a "tal" da Dilma de sobrenome "comunista" escapou da morte. Pois bem, os políticos de hoje traem a memória e as famílias daqueles jovens patriotas brasileiros. Desgraçadamente. Vergonhosamente. Mas os seus futuros e os dos seus entes queridos parecem generosamente assegurados, às custas de milhões de traídos.

Não foi o comunismo nem o socialismo que fracassaram, embora, como solução humana para os regimes de governo, nenhuma ideologia isolada sirva. Mas fracassaram todas rotulagens socialistas, porque o verdadeiro conteúdo não correspondeu aos rótulos. A prioridade não foi o ser humano cidadão, contribuinte e eleitor, salvo em programas demagógicos. Mas curiosamente vale olhar para a foto deste artigo. Oscar Niemeyer, notável e adorado arquiteto de brasília, reconhecido comunista, também de certa forma fracassou. Não pela sua escolha ideológica, um direito democrático. Mas porque não conseguiu sensibilizar nossos políticos tacanhos para o fato de que o côncavo e o convexo, bem como a coluna dupla, ambos elementos arquitetônicos e simbólicos do prédio do Congresso Nacional, devem ser na verdade uma coisa só: um símbolo da esperança desse povo simples e trabalhador, já tão cansado de ser enganado, e de não ter perspectivas claras oferecidas pelo Estado, que sustentem a sua opção pela honestidade e contra a bandidagem organizada formal.

CLIQUE PARA VER A OPINIÃO DE ANDRÉ SINGER:

"Temer Cometeu Tripla Traição".

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