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sexta-feira, 1 de abril de 2016

TEM GRINGO NO SAMBA DO IMPEACHMENT

É difícil imaginar, que em algum outro momento do passado da jovem pátria brasileira e da sua inexperiente nação tenha sido criado uma situação de tamanha degeneração institucional pública e jurídica. E não faltaram razões para isso. Não deixou de haver a intensão deliberada de grupos determinados a sustentar o condenável direito de explorar e dizimar covardemente este país, imenso, riquíssimo, e a sua população ingênua, que nos últimos tempos vem escutando isso como falso consolo. Nem mesmo o próprio rei foi poupado da sanha compulsiva dos ambiciosos e desleais, inclusive portugueses, que desviaram uma fortuna incalculável em impostos, da nobreza que conseguiu falir a primeira versão do Banco do Brasil, e fazer o rei se convencer de que precisava proteger o seu erário, mas não apenas dos piratas que infestavam o longuíssimo litoral do Brasil.

O que faltou, desde o início da colonização, passando pela monarquia e por dois impérios, foi o tipo de consciência que hoje não poderia faltar. E por que? Ora, porque hoje, embora a propalada democracia seja somente um grande rótulo, os conceitos de monarquia e império não o eram. Hoje temos uma república, formalmente controlada por um regime presidencialista, de preferência popular confirmada por plebiscito, lastreada por uma Constituição Federal nem tão presidencialista mas em vigor. Enfim, hoje o conceito de instituição pública, devia ser muito mais inequívoco, as suas funcionalidades mais efetivamente garantidas, e os conceitos praticados muito mais nobres e leais à nação brasileira, que na prática elege e paga falsos representantes. E seria inimaginável alguém sustentar o próprio poder ameaçando, como fez o rei da França, "a justiça sou eu".

Não deixou de haver a vilania, o gene, unidade fundamental da genética, inclusive institucional e político, do egoísmo e da ambição pessoal. Nem a ingenuidade torpe dos coletivos, que nada tem de vilania. E Napoleão Bonaparte, de cuja sanha o rei fugiu desavergonhadamente arriscando no mar e sem propulsão própria a família e tudo que tinha, já sabia disso quando disse, "Se eu der liberdade de imprensa, meu império cairá em três dias". Mas o erro hoje é ainda mais visceral, inclusive porque homens públicos são eleitos para finalidades que não cumprem, para receberem muitas vezes compensações que não conseguiriam no mercado privado de trabalho, no mínimo por absoluta carência de qualificação técnica, para fazer leis e depois se colocarem acima delas, em nome de uma representatividade que só representa os interesses deles próprios.

Todo o processo político e institucional no Brasil pós militarismo, passando pela constituinte que estabeleceu a carta magna em vigor desde 1988, pode ser resumido em uma única e insidiosa ideia: "parlamentarismo, ainda que tardio". Ou seja, não pode ser no peito, de um "golpe" só, então iremos alinhavando, comendo pelas beiradas, e enquanto isso degradamos a unidade do estado através de uma interminável sucessão de falsos conceitos menores, e portanto muito pouco percebidos mas inseridos na lei, disseminados com a ajuda da mídia menos preparada porém dedicada ao consumismo de informações. O tal golpe, com que a situação tenta manipular a opinião pública em defesa dos seus egos, não vai acontecer, mas apenas porque já acontece, e de ambas as partes cada qual segundo suas conveniências, em nenhuma hipótese assegurando o interesse público. Pior, assumindo o risco histórico de jogar os brasileiros uns contra os outros, a partir de bordões de conteúdo duvidoso, sem entender direito o que há por trás deles.

Enquanto a comunidade internacional faz piadas e se diverte, acotovelada na falsa robustez das suas próprias instituições, por aqui não temos uma família real presa no meio do atlântico por calmarias. Ao contrário e justamente por não estarem presos, homens e também mulheres públicos, ameaçam todas as nossas comunidades com o exemplo e a disseminação de conceitos degenerados, mesmo os mais elementares, como o da unidade do estado, sem oferecer nenhum rumo seguro que não seja para um caos ainda mais grave, e para um longo século ambulatorial e de convalescença pós cirúrgica. Legislativo e executivo em guerrilha pessoal, sim, mas não somente estes poderes e não somente em nível de última instância. Dizem as piadas que no Brasil bandidos tentam prender juízes, mas nós sabemos, por exemplo, que advogados se mostram comprometidos com as causas pelas quais são pagos e não exatamente com a justiça, e por isso dizem e fazem o que lhes convém. Parlamentares são tão diferentes assim com relação ao verdadeiro conceito de representatividade democrática, de todos, para todos o por todos? Mormente agora, que ambos aparecem nas telinhas e telões cordialmente reunidos, porque políticos tentam atribuir o caráter jurídico da última instância institucional às suas intenções equivocadas, e assim evitar reações. Isso pode ser uma apoteose pseudoparlamentarista, no rumo estratégico de um parlamentarismo formal. O que farão os homens da justiça deste país?... Nem nas nossas comunidades de sambistas, ao menos autênticos e leais, se rebola tanto assim. Que maravilha... Essa metáfora aplicada ao "funk" seria inimaginável e ainda mais vergonhosa para os brasileiros.

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